sexta-feira, 13 de abril de 2012

Textos - Sumir

Às vezes eu penso em sumir.

Fechar os olhos, esperar que tudo passe, mas talvez somente eu passarei. De olhos vendados, enquanto nada vejo, e assim nada sofro. De mãos amarradas e pernas presas, quando impulso algum me fará reagir. Com os lábios cerrados no abraço de uma tortura, impossibilitando o grito, o pavor, o murmúrio.

Sumir no silêncio, no escuro.

Numa piscadela, enquanto tudo gira sem se mover. O mundo me estonteia, ou talvez eu estonteie o mundo na afobação. Terrível dúvida da existência, terríveis atitudes que se formam nas escolhas, que nos forçam, nos destronam, desmoronam. Assim nos tornamos ruínas, pilhas de destroços do ser que um dia fomos. Assim seremos vestígios, resquícios, cinzas restantes de um incêndio gélido.

Sumir nas chamas, na dor.

Escolhas, escolhas, mais escolhas, tantas dúvidas! Hei de ser meu redentor, mas hoje carrego apenas a rendição, dopado pelo esforço alucinógeno de viver, pelo torpor do ser ou não ser que, no fundo, nunca é. Nunca somos, nada são, algo existe? Escolhas, eternas e inquestionáveis, rebeldes, revoltas, escolhas.

E então, nas dúvidas, penso em respostas, mas resposta alguma coexiste com minhas questões. Indago-me com irrelevância, perco-me nas paredes de um labirinto fúnebre, despenco numa queda inerte e apavorante. Nada sei, nada saberei, nada há para saber.

Só sei que, às vezes, eu penso em sumir.

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