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ACORDOU
E, MAIS UMA VEZ, ESTAVA SOZINHO. A porta ainda estava bloqueada pelos sofás e
pelos armários. Daiana não estava mais ali, ao seu lado. Ele se perguntou como
ela entrou, como saiu e como tudo parecia estranhamente no mesmo lugar.
Estava
cansado demais para pensar ou imaginar coisas.
Olhou
o celular, por acaso. Rubens tinha desistido de ligar, e isso era bom. Uma
pessoa a menos para lhe incomodar. Havia, no entanto, onze ligações perdidas,
sendo dez delas de Luciana. A última era de Felipe, mais uma vez. Uma única
ligação, sem importunar. Ele era bom nisso. Oferecer ajuda e saber esperar o
interesse do outro lado. Diferente de Luciana, obviamente.
Mauro
estava exausto. Não tinha forças para se levantar da cama. Sentia fome e sede,
mas não tinha vontade de comer ou de beber nada. Queria ficar ali, vegetar até
morrer, até aquele sofrimento acabar de vez.
Decidiu
olhar suas mensagens. Rubens tinha ofendido todas as suas gerações, mas isso
não era de surpreender. Luciana, nos dias anteriores, disse que queria
ajudá-lo, que gostaria de estar mais presente. Quem ela achava que era, sua
esposa?
Daiana?
Havia
uma única mensagem de Felipe, e ela dizia, franca e rispidamente, se decidir ficar sozinho, vá à merda, mas se
precisar, me liga, seu canalha. Mauro sentiu vontade de sorrir, mas seu
corpo não se lembrou como tinha de fazer, então ele apenas releu e assentiu.
As
outras mensagens de Luciana estavam diferentes, especialmente as últimas. Preciso falar com você, na tarde
anterior. É sério, preciso falar com você,
durante a noite. Mauro, é urgente,
durante a madrugada. Preciso de você.
Você tem que me escutar. Me liga. Me ouve. Você é um idiota. Eu também sou.
Precisamos conversar. Você tem que me ouvir! Não acredito que vai me ignorar?
Até quando vai se esconder? Até quando vai evitar o mundo? Eu tô... Eu preciso
de você. Preciso falar contigo.
Durou
a madrugada toda, e só agora ele via todos aqueles textos enviados por Luciana.
Ela tinha algo para dizer, mas ele não estava bem para escutar. Não ligou de
volta, nem para ela, nem para Felipe. Não respondeu mensagem alguma.
O
celular vibrou outra vez, uma mensagem.
Felipe.
Cara, você ainda tem
visto a sua ex-mulher?
Simples
e direto, como tinha de ser. Mauro estranhou a pergunta, mas sentiu-se curioso.
Por que a pergunta?, escreveu em resposta. Enviou a
mensagem e viu seu crédito acabar.
Porque sim. Eu queria
saber. Você ainda tem visto a Daiana?
Mauro
não tinha créditos para responder, portanto jogou o celular no chão e se
esparramou na cama de casal.
Quatro
mortes. Ele não conseguia deixar de pensar nisso. Não conseguia deixar de
pensar no dia em que se viu agir sem que se lembrasse. E se fosse ele o
assassino? E se fosse ele o responsável pela morte daquelas garotas? E se fosse
ele o homem que assassinou friamente Elizabeth, sua própria filha, e também
Júlia e as outras duas meninas?
A
corda que tentara usar para o suicídio estava ali, jogada ao lado da cadeira,
ainda caída ao chão. Ela parecia convidativa demais, mas ele não tinha forças
nem mesmo para suicidar.
—Onde
isso tudo vai parar? —ele se perguntou, olhando para o teto de seu quarto.
Percorreu o cômodo com os olhos, desanimado. Nessa empreitada, encontrou algo
que lhe fez estremecer de pavor.
Uma
faca.
A
mesma faca que vira na bolsa de Luciana, uma vez antes. A mesma faca que estava
em suas mãos na noite de seu sonambulismo. A mesma faca que tivera sangue na lâmina,
tempos atrás.
Quanto
tempo se passou desde aquela noite?
Quanto
tempo se passou desde a morte de Elizabeth? Quanto tempo se passou desde a
noite em que ele e Luciana se envolveram? Quanto tempo se passou desde o beijo
que dera em Daiana?
Dias?
Semanas? Meses?
Por
que ele não se lembrava?
Mauro
se levantou. Sua cabeça doía, mas ele precisava se embebedar. O caos tomava
conta de sua mente, e nada além do álcool pode combater o caos. Encontrou uma
garrafa de conhaque num de seus armários, tomou-a sozinho. Achou algumas latas
de cerveja e meia dose de vodca escondida na geladeira, acabou com tudo. Queria
mais, mas não tinha nada mais para beber. Olhou para a porta de sua casa,
pensando em sair para comprar algo; não tinha coragem. Os sofás e os armários o
lembravam de que ele não devia sair dali, de sua casa. Procurou na dispensa por
algo para beber, não encontrou. Procurou em seu quarto, achou um vidro de um
perfume que ele nunca usara. Um presente de Daiana, de anos atrás.
Bebeu,
e logo em seguida vomitou na própria cama.
Não
fez questão de limpar. Deu mais um gole, vomitou outra vez. Seu estômago e sua
garganta queimavam. Ele se deitou, ao lado da sujeira que acabara de fazer, e
fechou os olhos. Abriu-os, tudo girava. Olhou para o teto, para as luzes, para
o ventilador. O mundo girava. Olhou para a faca que residia em seu quarto, e mesmo
ela parecia girar, inerte.
—Eu
não sei o que fiz —falou, como se alguém o escutasse. —Não sei o que tá
acontecendo. O mundo tá louco demais para mim. Eu não aguento mais...
Viu-se
falando sozinho. Não estava bem. Não estava mais ali ou em qualquer outro lugar.
Não estava mais.
Pegou
o celular, ligou para Luciana.
—Mauro,
seu tremendo filho da mãe! —ela gritou, alterada, chorosa e preocupada. —Por
que não me ligou antes?!
Mauro
respirou fundo. Não tinha forças para nada daquilo.
—Eu
estou bêbado —disse ele, diferente do que tinha planejado para aquela ligação.
—Fácil
de perceber. Preciso falar com você. É urgente.
—Então
venha até a minha casa.
—Eu...
não tô muito legal. Não acho que deva sair daqui. Passei mal nessa manhã, ainda
estou meio fraca.
—O
que você tem?
—Não
sei. Ânsia, dores de cabeça, dores no corpo.
—Está
doente?
—Seria
melhor se fosse isso.
—Então
o que aconteceu?
Luciana
respirou bem fundo antes de responder.
—Eu estou grávida, Mauro. De
você.
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