Vento Verdejado
O vento bateu em seu corpo e se desviou, defletido pela velocidade de sua fuga.
Ela era um borrão sobre os prédios, veloz e habilidosa com cada um de seus movimentos. Saltava com delicadeza, num parkour gracioso de giros e manobras, e assim se distanciava de quaisquer perseguidores.
Havia muitos deles, equipados com suas armaduras biônicas, metal pesado demais para a caçada. Ela tinha vestimentas colantes, deixava as tranças alinhadas por tubos sacudirem como fios sedosos de natureza.
Alcançaram-na, tinham armas, mas armas eram tudo o quê tinham.
Ela tinha vontade e valentia, e assim desbravou o fuzilamento com piruetas e esquivas.
Caíram seis; ela permaneceu. Nas miras de rifles e metralhadoras, recuou, sentiu a amurada nas costas. Fim da linha.
—Últimas palavras, franguinha?
Escarrou nos olhos do perseguidor, a saliva era ácida, corroeu até matar.
Ele, aos gritos, mas ela era um total silêncio. As últimas palavras demorariam a chegar.
Moveu-se, ouviu disparos, o céu a abraçou. Vento, vento forte e ciclônico, chicoteando o nada com suas tranças. Acionou o relógio nos pulsos, poucos segundos para uma queda de cento e cinquenta metros. Dada como morta, mas não seria a primeira vez.
Sobre o capô de um carro reluzente, pousou com delicadeza de ave, a gravidade era sua companheira. Ajeitou o cabelo verde, ganhou o solo e desfilou na multidão. Ninguém a reconheceria, pois ela inexistia.
Também inexistia o presidente apontado por seu contratante, mas essa era uma outra história.
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