Trago agora um poema diferente, contando-nos a vida de um ladino conhecido como Valete. Um texto que, da mesma forma que Belo Colorado, é voltado para o medievalismo fantástico, uma área que gosto muito! Sem mais dermoras, vamos às palavras:
Odisseia de Valete
Nascido em montes foscos, onde o brilho do sol fraqueja
Criado no vale dos lobos, sobre o aroma das cerejas
Exibia tua valentia, predomina o uso do blefe
Chamado sem que tenha nome, ó respeitoso Valete
Bebê no abraço lupino, silvando junto da noite
Em uivos de um tosco albino, castigado pelo açoite
Crescera sem sentimentos, expurgado como algoz
Forçado por teus motivos, despediu-se sem uso da voz
Partindo pra terras distantes, entregou-se ao louvor
Matou, roubou, fez-se valer, encheu-se de valor
Ladino, larápio, gatuno sadio, pronto para morrer
Na teoria, pois prática muda, sequer deixava-se ver
Sempre nas sombras, o destemido Valete tornava-se rei
Mas seu domínio eram vielas, lar do silêncio de ser
Anos passaram, tornou-se homem, sem deixar de flertar
Loura, morena, pura indigente, até o amor encontrar
Cachos vermelhos pomposos e puros, seios de realeza
Veste elegante, olhos estreitos, pele de imensa beleza
Filha de nobres, dama garbosa, grande alteza no réu
Iris sonhava com aventuras, Valete encontrara o céu
Paixão fervente, mas proibida, evitada pelos seus
Não impedia todos encontros de Julieta e Romeu
Pelo orgulho, seu pai tirano, o rei teve a decisão
Pegou Valete com seu exército, montou a forca com as mãos
Capturado por cordas e lanças, Valete viu o desespero
Aprisionado, sonhava alto, liberdade um pesadelo
Nuvens cinzentas desenhavam o mais falso entardecer
Iris chorava nos braços longe do amado, desejava morrer
Bravos carrascos sem sentimentos despejaram palavras
Discurso tolo sem finalidade, tortura inusitada
Olhos vermelhos de sofrimento, Valete era impassível
No desencanto de seus momentos, encontrou o indizível
Tais fios ruivos de tua paixão, mostraram-lhe o caminho
Era ladino, era guerreiro, era um estranho no ninho
A liberdade era um dom herdado pelas feras dos sóis
Buscou nos lobos que o criaram, a valentia de heróis
Magro e franzino, fraco e fujão, Valente se livrou
Dos braços fortes de cinco homens para rever seu amor
Iris, rebelde, em seu frenesi, apunhalou o genitor
O rei tirano que à vida deve, morte a ambos ordenou
Fosse platônico ou respeitoso, era um amor infindável
Bem diferente do ódio errôneo, vindo de um rei deplorável
Sem se importar com a realidade, perderam-se na matança
O beijo tenro não foi possível, evitado pelas lanças
‘Ó, minha Iris, que os deuses a tenham, sempre terás meu amor.’
‘Em ti acredito, Valete querido, és meu grande protetor.’
Sangue jorrava, vidas perdiam todas as suas vontades
Sonhos e amores que se esvaíam, dores, mentiras, verdades
Crucificados na crueldade de um poderoso animal
Apedrejados por todo o povo, banalizando a moral
Um castelo sem bandeira alguma, homens de pouco ideal
Enquanto o rei era um ladino, mestre em disfarce teatral
Até a próxima!
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