A Vida em Eterna Mudança
Eu só queria fechar os olhos
E, no escuro, ver tudo mudar
Só queria apagar as luzes
Apagar lembranças no interruptor
Eu queria ver além da parede de lágrimas
Queria tirar da vida todo seu proveito
Ser o mais perfeito dentre os imperfeitos
Comemorar os dias que nunca virão
Queria sentir a falta do que um dia tive
Pois hoje sinto falta do que nunca mais terei
Mudança inesperada que me turva a vista
Queria esquecer algo que já não me recordo
Fazer dos dolorosos dias um sustento
Mas hoje cedo esforços ao maior tormento
De um mundo que gira mais rápido que meus olhos
Abraço a dor intensa que não cicatriza
Que priva da alegria que me escapa aos dedos
Enfrento muitos medos, mas um medo me vence
Um sólido repente de infindável intriga
Fazemos dessa vida um banho de ilusões, mas
Agulhas tão reais nos forçam a despertar
Desejo pobre e tolo, doença sem cura
Um pranto sem lamúria, de eficaz respeito
Ferimento agudo que ainda me perfura
Ainda que eu quisesse apenas sobreviver
Sombras de um passado, de amores risonhos
De dias tão felizes que hoje me fazem chorar
O brilho que eu queria era o fogo de um fósforo
Soprado em rebeldia para me assustar
Eu só queria entender a vida que tenho
Queria ter certeza que ainda tenho algo
Queria recompor-me em um só segundo
Mas chagas tão profundas demoram para sarar
Eu queria abrir os olhos e ver cores
Pois vivo um preto-e-branco infernal em demasia
Um açoite inoportuno, ríspida mudança
Que alcança minhas andanças e me tira tudo
Eu queria estar no escuro, mas do escuro tenho medo
Um medo que só teme a completa escuridão
Repito no espelho: “tens todo o tempo do mundo”
Mas o tempo é a mudança que vem me emboscar
Eu só queria fechar os olhos
Mas temo que esse pesadelo nunca vá terminar
Sem mais.
Até a próxima.
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