Um dia, busquei defeitos em meus amigos.
Todos estavam lá, todos estendiam as mãos
Guiavam-se por abraços, tomados por impulsão
Amavam-se em falsidade, sorriam de coração
Percebi que eram tolos, nada mais que ilusão
Perdi todos.
Então, busquei defeitos em minha família.
Com laços de um sangue quente, tão gélido quanto o chão
Envoltos num mar de rosas, paisagem de um só verão
Amigos obrigatórios, singelos gestos de mão
Mesuras tão eloquentes, me enchem de escravidão
Afastei-me.
No canto escuro do mundo, luz alguma há de chegar
Pois minha vontade turva é um mistério a sombrear
Prisão em total liberdade, solitária na multidão
Permitem-me abrir os olhos, fitar minha constelação
Decidi caçar meus próprios defeitos.
Qualidades e virtudes, centelhas de imensidão
Amores frios como neve, ardentes como um vulcão
Tufão de emoções violadas rastejam em podridão
Em minha busca incansável da perfeita imperfeição
Olhei minha imagem no vidro; assustei-me.
Ter de volta o que importava, tarefa tão exaustiva
Rotina a ruir por nada, destroços, monotonia
Reergo-me como fênix; jamais postei-me aos joelhos
Pois o mais justo dos sábios busca defeitos no espelho
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