domingo, 15 de abril de 2012

Conto - Batismo de Fogo

Olá, companheiros!
Faz um tempo que eu não trago nenhum conto para cá. Parte devido aos trabalhos e à correria da faculdade, parte pelo fato da maioria dos contos que escrevo ultimamente serem destinados a antologias. Infelizmente não tenho nenhum trabalho novo para postar, mas trago-vos hoje um conto antigo, que faz parte da coletânea Além da Terra dos Uivos (disponível para venda na PerSe e no Clube de Autores, consultar a área 'Publicações' para mais detalhes), chamado Batismo de Fogo. Não é ambientado em Elhanor por ter sido escrito antes mesmo do cenário existir, mas enfim, faz parte do medievalismo da época, que abandonei por algum tempo para me concentrar, como atualmente tenho feito, na fantasia urbana.
Espero que apreciem a leitura!

Sinopse: Chorou, mas choraria apenas naqueles momentos de fraqueza, de infância. Cresceria honrada, gloriosa, feito uma lenda. Tornar-se-ia conhecida, importante, idolatrada. Seu destino fora traçado no momento de seu nascimento.
Ali, num berço de morte, nasceu uma nova história. Batizada pela guerra.

Batizada pelo fogo.

A guerra explodia.

Os estandartes dos orcs se erguiam aos céus escuros, banhados pelo sangue de inocentes e bravos guerreiros, homens ou elfos. Do outro lado, as bandeiras humanas ardiam sobre flechas em chamas, rasgavam-se com golpes de lâmina, porém as élficas ainda mantinham-se puras e onipotentes, um brilho de esperança entre toda aquela algazarra e carnificina. Símbolos contra símbolos, duas forças se enfrentavam naquele dia, os monstruosos seres das cavernas, brutos e insanos, sem medo de morrer, e a aliança pela justiça, última chance de salvação para o reino, composta pelos elfos, os homens, e aqueles que restaram entre os anões.

Das covas subterrâneas surgiam as imensas aranhas atrozes, peludas e grotescas, com veneno a escorrer pelas presas enormes. Montando-as estavam os arqueiros, precisos e impiedosos, buscando sempre o alvo mais indefeso. Matavam guerreiros que lutavam contra outros oponentes com golpes injustos e sujos, coisas de sua natureza. Por isso, logo que uma aranha dessas surgia, se tornava o alvo principal das espadas e lanças do exército dos homens.

As orelhas pontudas usavam de toda sua feitiçaria para resistir à ofensiva das catapultas rústicas e antigas usadas pelos rastejantes, que lançavam pedras em chamas e corpos de soldados mortos contra os escudos firmes dos guerreiros. Anões, que eram poucos, usavam de sua tecnologia em pólvora para matar diversos goblins com disparos de garrucha e outras armas de fogo da mesma linha, poderosas nas mãos daqueles que sabiam controlá-las. Já os homens mantiveram suas tradições, dentro das armaduras de batalha completa e portando as espadas de seus respectivos povoados, longas ou curtas, mas sempre afiadas e bem tratadas para uma possível guerra, como essa.

Lutavam pela conquista do reino de Elvalinar, a terra dos justos e dos sábios. Os rastejantes, como eram chamadas as criaturas das sombras e das cavernas, já haviam iniciado seus ataques em algumas cidades, mas o plano agora era outro. Miraram a capital do reino, para assim derrubar seu comando e controle, assumindo Elvalinar para a raça dos impuros, o que seria uma perda irreparável para os homens. A Força, reunião das três raças em nome do reino, considerava-se pronta para qualquer ataque oriundo dos rastejantes, e sempre os enfrentou com vitalidade e eficiência, mas o caso agora era outro. Era como se aquelas criaturas, antes insanas e bárbaras, tivessem agora um controle melhor de suas ações e, mesmo que difícil de acreditar, um plano de ação. Agiam com êxito, não por impulso, e sabiam que aquela batalha poderia significar um avanço imenso em suas posses. Não desistiriam de maneira alguma.

Em meio às explosões de pólvora e magia e o choque de espadas e clavas daquele confronto, uma mulher abriu os olhos. Deitada sobre o corpo de dezenas, jogada como um cadáver qualquer, carregava uma ferida imensa nas costas. Sentiu o sangue que escorria abaixo da armadura, e poucas gotas passavam pelo largo rasgo no metal das placas que antes a protegiam, exibindo tecidos de seu corpo delicado e partes de ossos. A dor era indescritível, mas ela tinha outras coisas para se preocupar. Levantou-se da pilha de corpos, os olhos confusos, a mente perdida.

Quem era ela?

Esquivando-se de um ataque por pura sorte, a mulher se jogou ao chão, e gemeu de dor. Agarrou a primeira arma que encontrou por perto – uma cimitarra repleta de trincas – e se protegeu do segundo golpe que o orc desferiu, derrubando-o com um chute nas pernas logo a seguir. Finalizou o ser com uma estocada em seu peito, ainda no chão, não demonstrando piedade alguma. Sabia que, se fosse ela, a situação seria igual, ou pior.

As costas limitavam seu movimento, mas ela continuava. Dois goblins tentaram impedi-la, em vão, pois mesmo ferida, ainda era ágil o suficiente para degolar um rastejante enquanto chutava outro para longe, afastando-o por tempo o suficiente para que a cimitarra retornasse e levasse consigo suas duas pernas, forçando-o a urrar de dor antes de encontrar uma morte silenciosa com a lâmina em sua testa. Não sabia de onde vinha aquelas habilidades de combate, mas lhe eram muito úteis num momento de tensão como aquele. Agradeceu a um deus que não conhecia, e seguiu.

De alguma maneira, sabia que precisava seguir. Não sabia para onde ia, o que buscava, mas sabia que precisava continuar sua caminhada. Viu quando anões perderam as armas de fogo para um enorme ogro, e quando a mesma criatura foi derrubada por poderosos feitiços dos elfos. Dois outros ogros então atacaram e lançaram os corpos dos elfos para longe, entrando em conflito com homens de lança em seguida. As lanças eram longas, o que facilitava atingir partes mais críticas de monstros com mais de dois metros de altura, mas a força dos cavaleiros ainda era incomparável à dos rastejantes maiores, e as armas serviram como brinquedos nas mãos dos inimigos, que as partiram, assim como fizeram aos ossos daqueles que as portavam. O próximo alvo era a mulher, que seguia seu caminho sem nada dizer mas, quando percebeu que era alvo de brutamontes, se preparou para enfrenta-los.

Aproveitou um disparo de pólvora vindo de um anão distante, provavelmente um erro de cálculo, para atacar um ogro distraído, subindo em seu joelho de apoio para alcançar seu peito, o qual perfurou com a cimitarra. Foi presa com as duas mãos pela criatura, que a lançou para longe. A ferida se abriu mais, e o sangue jorrou pela armadura, incapacitando-a. Ignorou as costas, que agora doíam mais do que um humano poderia suportar, e se preparou novamente para o combate, levando consigo duas lâminas élficas que encontrara perdidas ao chão, próximas a braços decepados. Correu, mas seu movimento era debilitado, suas pernas fraquejavam, seus braços tremiam. Mesmo assim, avançou por sobre o primeiro ogro que encontrou com as duas espadas e, cortando em x, arrancou a cabeça horrenda do monstro.

O segundo ogro a pegou pelas pernas e sacudiu no ar, derramando sangue para todos os lados. No alto, como alvo fácil, foi atingida no ombro por uma flecha em chamas que penetrou em sua armadura, ferindo tanto carne quanto ossos. Largou uma das espadas, e aquele braço não mais a obedeceria. Usando da última arma que lhe restara, cortou a mão da criatura que a prendia, que gritou de dor, mesmo que sua dor não fosse uma mísera parte se comparado àquela sentida pela mulher quando caiu, de costas, ao chão repleto de metal e pedras.

Chorou, e suas lágrimas eram vermelhas, sangue de guerreira, virtude de uma deusa. Se pôs em pé novamente, nada poderia derrotá-la. Limpou a sujeira do rosto, o sangue dos olhos. Chutou a mão decepada do ogro para longe, cuspiu. O braço ferido pela flecha imóvel, jogado para o lado, inútil, a espada na outra mão pronta para emprego. Os olhos selvagens queimaram, as placas de metal partiram em suas costas e caíram ao chão, mostrando a pele clara e o ferimento profundo que a marcava. Coberta apenas por panos surrados, a guerreira avançou, as botas metálicas marcando o chão em seu caminho. Saltou, sem pensar na ferida, sem pensar em nada, e destruiu o peitoral o ogro com a lâmina que restara, caindo por sobre o derrotado como uma gladiadora vitoriosa, orgulhosa.

Nesse momento, todos os goblins e orcs mais próximos já haviam notado a ameaça que essa mulher os causava, e se focaram nela. Arcos e espadas, lanças e martelos, todas as armas dos rastejantes se voltaram contra a guerreira. Os monstros bufaram, raivosos e brutos, como sempre foram, e investiram sem pensar. Todas as armas chegaram de uma só vez ao corpo da guerreira, que não pôde desviar. As espadas a cortaram, os martelos destruíram os ossos de sua perna e bacia, as lanças perfuraram todo seu corpo, marcado por flechas. O sangue jorrou daquilo que agora parecia uma boneca, murcha e sem vida. Os olhos permaneceram abertos, incansáveis, animalescos, em chamas. Nunca perderiam o brilho.

Ao pensar que poderiam comemorar a vitória, os rastejantes deram início ao massacre de sua própria derrota.

Os olhos da mulher jorraram sangue, e o sangue ferveu. Incendiou, ardendo em chamas de um vermelho vivo que se ergueram em torres flamejantes e destruíram os mais próximos, carbonizando seus corpos em segundos, restando apenas cinzas irreconhecíveis em um campo de batalha imundo. As armas que a tocavam derreteram e o metal líquido deslizou pelo chão, fervente, juntando-se a tantas outras peças de armas e armaduras que também se desfaziam com a simples existência daquele poder. A guerreira gritou, e seu grito derrubou milhares de homens e monstros do local, e os fez tremer diante de um poder que não entendiam.

O poder de um deus.

Dias antes, rezaram os elfos, seres mais próximos da magia e do panteão, para Flamedrus, o deus do fogo, da coragem e da ressurreição. A divindade ouviu as preces de sua prole, mas as recusou. Não ajudaria quem não se provasse digno de receber sua benção, e essa dignidade era conquistada apenas em meio ao combate. Flamedrus apreciava a coragem, a bravura, os atos heroicos, perfeitos para as histórias dos bardos. Durante os dias que se seguiram, aquela guerra trouxe muitas demonstrações do tipo, mas nenhuma delas se comparou àquela jovem.

Uma guerreira pura, inocente, recém-formada na academia dos cavaleiros de Elvalinar. Sofrera preconceito em seus testes e treinamentos, pois mulheres nunca seriam aceitas em meio aos guardiões, os homens que se tornavam cavaleiros para proteger o reino e seu povo. Sabendo disso, ela ofereceu sua força e suas armas para o reino, fazendo o juramento de proteção antes mesmo que lhe fosse permitido. Foi um ato de loucura e teimosia, mas era sua única chance. Aceito pelo rei, o juramento terminou com sua benção real, que a tornou, em termos de lei e regras, uma guardiã real, assim como qualquer cavaleiro formado anteriormente ou, talvez, ainda mais digno.

Participou de vários combates, e sempre se saiu bem, como um destaque entre sua tropa. Enfrentou ainda preconceito, mas não era algo que a incomodasse mais. Venceu vários desafios, e não seria o seu exército que a derrubaria em batalha. Voluntariou-se para defender o reino em embates que poucos homens ousaram lutar, e o fez com louvor. Mas, dessa vez, foi diferente.

A batalha cresceu, o confronto se tornou sangrento, uma guerra descontrolada. Em meio ao exército dos rastejantes ela mais uma vez demonstrou sua força e coragem, enfrentando-os pela proteção de seu povo, que era o que mais importava. Precisou de ajuda, gritou por seus homens, mas eles não vieram. Todos ouviram seu pedido de auxílio, mas nenhum deles se arriscou para tentar salvar sua líder. Com um movimento desesperado, que lhe rendeu um ferimento doloroso na perna, conseguiu escapar, para desespero dos cavaleiros que a negaram ajuda. E, quando um deles tombou, emboscado por dezenas de orcs e um troll lanceiro, foi ela quem se atirou na direção do jovem e o tirou da mira da morte, mas acabou com sua vida de histórias gloriosas.

E foi tal ato que mostrou a Flamedrus a coragem e bravura que ele tanto desejava ver. Assim, como uma fênix que retorna das cinzas, a guerreira retornou da morte, sem sua consciência, mas com toda sua honra e poder, somados às chamas infinitas do deus da coragem. E o fogo aumentou, e lhe deu asas brilhosas e ferventes, que se abriram no campo de batalha como flores que desabrocham ao sol.

O chão tremeu, e a fênix usou de seu poder para levantar as pedras que formavam aquele terreno de combate, erguendo montanhas e depressões numa terra de planícies. O solo trincou, imensos abismos se formaram, e estes se tornaram a tumba de incontáveis cavaleiros e monstros. Os abismos então cuspiram chamas e magma, e a morte escorreu por entre as trilhas rochosas da montanha, agora um vulcão furioso em erupção. Gritos de desespero e dor podiam ser escutados por aqueles que sentiam a pele arder sob a lava, e os sons do fim de inúmeras vidas ecoaram pelos céus daquela guerra, assustando as estrelas e a lua que assistiam a tudo até então.

Porém, aqueles que rezaram não sabiam dos erros dos homens. Flamedrus aceitou a coragem da mulher como oferenda por sua ajuda, mas levaria consigo todos os envolvidos na guerra. Não havia lado para ajudar. Dentre todos os que lutavam sem medo naquele embate, apenas aquela mulher se provou digna. Se nem mesmo sua própria bandeira não lhe ofereceu ajuda, seriam todos consumidos pelo fogo e pela morte, e assim foi.

As enormes rachaduras continuavam a cuspir chamas e, então, toda a planície e as montanhas queimaram, chamas fervorosas e descontroladas que destruíam tudo o que tocavam, enquanto a fênix voava nos céus. Homens, elfos, anões, todos pereceram junto dos rastejantes e suas aranhas imensas, seus ogros e seus trolls. O fogo consumiu a tudo e a todo, como há de ser, e restaram apenas as cinzas para contar a história.

Ao fim, quando o silêncio reinou, as chamas baixaram. Os abismos do vulcão deixaram de cuspir magma fervente e calaram-se, frios e imóveis. Os gritos de dor cessaram, e a noite voltou a soprar uma brisa calma, de assunto resolvido. A mulher desceu ao chão, as asas de chamas desaparecendo de seu corpo. Flamedrus decidiu que ela não digna ao seu ver, mas o mundo era indigno a ela. Escolheu a guerreira para ser sua esposa, e assim foi. O corpo da mulher queimou, assim como todo o resto, e suas cinzas deslizaram suavemente pela brisa, até que se perderam ao vento.

Quando tudo acabou, os restos do combate foram carregados pelo vento para o topo do vulcão, agora adormecido. As cinzas da guerreira, espalhadas pelo ar, reuniram-se ao monte que formava-se com a história e lembrança de todos aqueles que lutaram naquela guerra. Reunidos ao topo do vulcão, as chamas mais uma vez subiram, dessa vez em um azul sombrio e sinistro. Baixaram, dessa vez para sempre, e deixaram num berço de cinzas uma pequena criança, que chorava, sozinha. O corpo miúdo e nu mostrava dois sinais peculiares em relação aos demais bebês: uma cicatriz longa nas costas, de um branco estranho, e uma marca de queimadura no peito, pouco abaixo do pescoço.

Chorou, mas choraria apenas naqueles momentos de fraqueza, de infância. Cresceria honrada, gloriosa, feito uma lenda. Tornar-se-ia conhecida, importante, idolatrada. Seu destino fora traçado no momento de seu nascimento.

Ali, num berço de morte, nasceu uma nova história. Batizada pela guerra.

Batizada pelo fogo.

O que tenho?

Eu tenho tanto.

Eu tenho tudo.

Eu tenho todos, mas não tenho ninguém.

Abraço a possibilidade, nada além de uma oportunidade do silêncio na vivacidade de um afeto envolto em vaidade.

Encontro um povo tão receptivo, todo alegre com seus belos sorrisos, que citam fontes, tantas sem juízo, e pronunciam-se como amigos.

Tenho abraços, beijos, tenho o mundo, mas o vazio é assim, tão moribundo; um silêncio que me é gritante, bem contente, bem apavorante.

Sento-me inerte, louco de vontade de alegrar a todas minhas inimizades, ao recusar toda sagacidade de seus simplórios atos de maldade.

Amigos de todos, não é o suficiente, exigem mais do que a nossa gente tem em mente, hoje tão demente, criando grupos isolados e viventes.

Sorrir para todos os lados, estar no meio; a simpatia dá lugar ao traiçoeiro, e assim me atiro num recorte de receio e lacro a porta, parte a parte, de um inteiro.

Eu tenho tanto.

Eu tenho tudo.

Eu tenho todos, mas não tenho ninguém.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Textos - Sumir

Às vezes eu penso em sumir.

Fechar os olhos, esperar que tudo passe, mas talvez somente eu passarei. De olhos vendados, enquanto nada vejo, e assim nada sofro. De mãos amarradas e pernas presas, quando impulso algum me fará reagir. Com os lábios cerrados no abraço de uma tortura, impossibilitando o grito, o pavor, o murmúrio.

Sumir no silêncio, no escuro.

Numa piscadela, enquanto tudo gira sem se mover. O mundo me estonteia, ou talvez eu estonteie o mundo na afobação. Terrível dúvida da existência, terríveis atitudes que se formam nas escolhas, que nos forçam, nos destronam, desmoronam. Assim nos tornamos ruínas, pilhas de destroços do ser que um dia fomos. Assim seremos vestígios, resquícios, cinzas restantes de um incêndio gélido.

Sumir nas chamas, na dor.

Escolhas, escolhas, mais escolhas, tantas dúvidas! Hei de ser meu redentor, mas hoje carrego apenas a rendição, dopado pelo esforço alucinógeno de viver, pelo torpor do ser ou não ser que, no fundo, nunca é. Nunca somos, nada são, algo existe? Escolhas, eternas e inquestionáveis, rebeldes, revoltas, escolhas.

E então, nas dúvidas, penso em respostas, mas resposta alguma coexiste com minhas questões. Indago-me com irrelevância, perco-me nas paredes de um labirinto fúnebre, despenco numa queda inerte e apavorante. Nada sei, nada saberei, nada há para saber.

Só sei que, às vezes, eu penso em sumir.

Balada do Campeão

Olá, companheiros.
Trago hoje uma letra de música ao estilo medieval, como se saída da boca de um bardo. Sem mais demoras, vamo ao texto.

Narram sobre

Um guerreiro sem igual

De nobreza colossal

Cujos olhos carregavam o esplendor de um animal

Teu propósito de rei

Ao teu lado viajei

Desbravando tantos males e assim o admirei

Seu nome jaz esquecido

Sob um túmulo esculpido

Entretanto cantarei a lenda deste grande amigo

Cavaleiro na amurada

De armadura prateada

A espada preparada para o campo de batalha

Todo homem que se preze

A alguém oferece as preces

Em seu caso era ela, bela dama Emanuelle

Ela, uma ilustre princesa

Ele, zero realeza

Mas seus olhos de plebeu só enxergavam tua beleza

Pra chamar tua atenção

Bravo homem, valentão

Vergastou o corpo sem medo até que fosse campeão

Declarou-se em campo aberto

Tremulante e incerto

Vendo o rei tão desprezível enojar o teu afeto

Desafio em puro mal

Governante em lamaçal

“Se tu amas minha filha há de ser um general”

O escudo ainda sem arte

Refletiu-se, fez sua parte

“Vencerei todo conflito com um lobo em estandarte”

Caprichou em sua pintura

Despediu-se em formosura

“Me espere, minha princesa, voltarei em desventura”

A espada como um raio

Alguns homens de lacaios

Liderando uma horda de felinos num balaio

Ao combate se lançou

Ostentou-se no louvor

Entre brado, fúria e sangue, muitos homens ele matou

Indicou o planejado

Viu-se tolo, amedrontado

E seu povo afugentou-se, por completo acovardado

O cavaleiro não fugiu

Seu exército partiu

Mas ele brandiu sua espada, afrontando mais de mil

Neste campo trovejante

Inexiste o homem errante

“Sejam mil, sejam milhões, enfrentar-vos-ei confiante”

A princesa do plebeu

Mesmo ao longe percebeu

Tão tristonha e chorosa, sentiu que seu amor morreu

Na agonia atirado

Destruído, desalmado

Um cadáver que assistia seus sonhos pisoteados

Me emociono a declamar

Sobre alguém que soube amar

Cuja honra permitiu que ali morresse sem chorar



Até a próxima!