segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Resenha - Mil Nomes


Olá, companheiros!
Hoje escrevo sobre uma coisa que muito me chamou a atenção quando a encontrei por acaso na página da Revista Fantástica. Trata-se de Mil Nomes, de autoria de J. R. Pereira, citada como a primeira Light Novel nacional. Adquiri um exemplar diretamente da Editora Ícone, e logo tinha meu livro em mãos, admirando seu acabamento e os detalhes das páginas pockets da obra. Complementada com ilustrações de Marcia Harumi Saito, temos pouco mais de 200 páginas para nos aventurar pelo Supra-Mundo ao lado de Mil Nomes, Prahna, Ka Lan e Hector. Está afim de nos acompanhar nesta viagem?


Mil Nomes - O Guardião do Infinito é uma história complexa, muito mais do que você consegue acreditar ao ver as ilustrações belas e infantis presentes na Light Novel. Acompanhamos a morte de Hector, um garoto risonho e feliz, mas logo entendemos que este é apenas o primeiro passo para uma imensa aventura num espaço amplo e detalhado de vidas e mais vidas sem fim. Fora de seu corpo, em termos, Hector encontra Prahna, uma garotinha com um olho na testa, e Ka Lan, a personificação da morte, algum tempo depois. Juntos, o trio entende e "reaprende" tudo o que sabem sobre o Supra-Mundo, onde todas as vidas são interligadas e, de maneira muito mais conturbada, todas as pessoas têm consciências capazes de criar novos mundos. Aí começa a nossa história, coberta re reviravoltas, altos e baixos, deslizes por parte do autor ou da revisão, termos e nomenclaturas criativas e originais, tudo apresentado nas vistas de uma criança-herói.
Mil Nomes me parecia um livro nas 100 primeiras páginas, e outro livro diferente nas últimas 100. Não entendam errado, isso nem sempre é ruim. Destaco essa observação por notar o avanço no desenvolvimento da trama apresentado pelo autor após a metade do livro, tornando as passagens cada vez mais interessantes, algumas até mesmo chocantes e inesperadas. Os personagens ficam cada vez mais próximos, criando um laço aparentemente impossível de se romper, enquanto tentamos entender tudo o que se passa ao redor de suas vidas-além-da-vida. Acompanhando o texto de J. R. Pereira, podemos observar, conforme o desfecho se aproximar, a tentativa de tornar a história mais adulta, diferente da perspectiva infantil apresentada durante todo o restante da novela, o que caracteriza o crescimento pessoal de seu personagem, Hector. Numa teia de intrigas e possibilidades, vemos cada página se revirar na forma de um novo acontecimento, e então viradas súbitas e assustadoras num desenrolar acelerado, o que tira o fôlego após a "introdução" de 100 páginas lida há tão pouco tempo.


Não sei se, em minha personificação de leitor/escritor/admirador de Light Novels, poderia caracterizar Mil Nomes como este gênero oriundo do Japão. Diferente dos moldes japoneses (seguidos à risca na Light Novel A Balada do Caçador, apresentada gratuitamente aqui no blog), Mil Nomes utiliza o travessão para os diálogos, e as aspas para os pensamentos dos personagens. A escrita é em terceira-pessoa, mas há passagens com grandes descrições, o que não é ruim (muito pelo contrário, ajuda bastante o leitor a tentar entender a complexidade daquele universo enorme desenvolvido pelo autor), mas afasta um pouco o romance do gênero simples e ágil das Light Novels. Ainda assim, bailando junto das ilustrações, o texto nos carrega para o imaginário de maneira atraente, terminando com um sabor instigante de quero mais.
Se preciso deixar claro pontos negativos na obra, aponto aqueles que mais me importunaram durante a leitura: erros de revisão (gramática, digitação, travessão fora do lugar, coisas básicas, nada gritante), aceleração dos fatos, atropelamento de informações, muitos termos e nomes que forçam o leitor a memorizá-los, diálogos um tanto forçados em certas partes do livro. Como positivo, destaco a criatividade e originalidade do autor, bem como as belas ilustrações de sua companheira. Não é sempre que desbravamos um planeta existente apenas pela consciência e vontade de outra pessoa. Ponto para o J. R. Pereira pela ótima ideia!

Mil Nomes, nas últimas páginas, cita uma possível sequência, de subtítulo 'Sementes do Tempo'. Ainda há muito o que contar, mas não há previsão para o lançamento da continuação, o que deixa os leitores "orfãos", de certa forma. Fico na espera, ansioso para rever Hector e suas esposas tentarem divulgar os moldes das Light Novels pelo Brasil, teimoso em recusar esse estilo agradável de leitura. E você, vai ficar aí parado ou vai dar uma passadinha no site da Editora Ícone?
Até a próxima!

Redbox inovando outra vez!

Olá, companheiros!
Postagem para divulgar, e parabenizar, a nova iniciativa da Redbox para o RPG nacional. Seu sistema, o já agraciado Old Dragon, acaba de acarretar um concurso que tem tudo para alcançar níveis épicos! A premissa é a seguinte: criar o seu cenário, da maneira que lhe for desejada (o que não quer dizer apenas medievais, por mais que o Old Dragon nos faça pensar coisa do tipo), e enviá-lo passo a passo para os "examinadores", participando de um sistema de votação que vai escolher aqueles que saem e os que devem permanecer. Mais à frente, seguindo o cronograma do concurso, teremos textos de 4000, 8000, 15000 e 30000 palavras, o que tornaria o cenário-base, planejado em 140 caracteres, num verdadeiro mundo de RPG.
E então, vai perder essa oportunidade? Comece desde já a planejar sua ambientação. Seja medieval ou futurísta, Old Dragon é um sistema que pode contar qualquer tipo de história. Aproveite mais essa excelente iniciativa da Redbox para se embrenhar ainda mais no mundo dos RPG's nacionais!
O concurso pode ser encontrado no SITE OFICIAL.
Até a próxima!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Coletâneas em Ebook!

Olá, companheiros.
Postagem rápida, apenas para avisar que as minhas três coletâneas publicadas de maneira independente (tanto no Clube de Autores quanto no PerSe) podem ser encontradas neste exato momento em formato digital, por apenas R$5 cada! Os livros impressos sob demanda, geralmente, custam um pouco mais do que os livros impressos em editoras físicas, pois estes contam com uma tiragem mediana, o que diminui os custos de produção. Sendo assim, resolvi disponibilizar a venda dos ebooks dos três livros oferecidos pelo PerSe, sendo eles encontrados nos links a seguir:

Além da Terra dos Uivos



Passos na Neblina


No Ferro, No Fogo, No Fim


Para aqueles que ainda não conhecem as obras, podem ver diretamente nos links, ou dar uma passadinha na área Publicações, aqui mesmo no blog, neste menu à esquerda da postagem, onde encontrarão também as miniaturas das capas e todas as outras publicações/participações deste que vos fala.
Até a próxima!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Estronho - Selecionados para a antologia Brinquedos... eles matam!


Olá, companheiros.
Sinto-me lisonjeado de fazer parte da nova lista de escolhidos da Editora Estronho, com o conto Majestade e Marionete, para fazer parte da antologia Brinquedos... eles matam! Adorei a história desenrolada neste conto, fico muito feliz de que ela possa ser lida por outras pessoas futuramente, numa publicação de uma das editoras que mais aprecio aqui no Brasil. Ao todos, temos 13 escolhidos e 2 convidados, e a lista completa você confere a seguir:
Geraldo de Fraga (O Boneco ladrão) e Fabiano Viana (Boneca sem olhos) são os convidados pela editora, enquanto A. Z. Cordenonsi (Henrique e o Arlequim), Alex Mir (Muiraquitã), Daniel de Medeiros Andrade (A boneca que era Mariana), João Manuel da Silva Rogaciano (Memórias de Teddy), Leonardo Araújo Oliveira (O soldado de Mariladruns Verkstrom), Luiz L. Bernstein (Um coelho, e alguém mais), Marcelo Breton (Frank), Norberto Silva (Marionetes), Priscilla Rúbia (A boneca Eduarda), Rodolfo Santos (Majestade e marionete), Telmo Marçal (O Crepúsculo dos brinquedos), Valentina Silva Ferreira (Manu) e Verônica Freitas (Uma visita à Casa Damballa) auxiliam na composição das páginas macabras desta obra.
Desde já estou ansioso para o lançamento deste livro que, assim como Insanas, promete fazer barulho entre os leitores. E o pessoa da Estronho já deixou bem claro que Carros... eles matam! estará aberta para o envio de contos logo logo, portanto, não hesitem em preparar suas histórias com veículos assombrados!
Até a próxima!

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Revista Elementais

Olá, companheiros!
Terminei hoje de ler a minha edição da Revista Elementais, uma iniciativa muito bem-vinda da Editora Virtual Infinitum, que atualmente se encontra em parceria com a Tecno Fantasy para que possa disponibilizar seus materias de maneira impressa, cuja temática principal são os contos ao estilo Light Novel, uma herança garantida pela publicação de Rafael Pombo, Elementais - O Receptáculo do Caos. Nesta história, nosso mundo é o palco de um conflito grandioso de poderes, ao melhor estilo oriental de ser. Com diversos personagens e preço acessível a grande parte dos bolsos, mesmo àqueles que ofendem os altos preços de livros enquanto pagam 300R$ num tênis de marca, Elementais apresenta uma boa aventura, com certas doses de comédia e momentos de tensão.


Mas que revista é essa?
A Revista Elementais é uma coletânea de contos do cenário de Elementais, e esta edição, de aproximadamente 40 páginas, custa menos de 7R$ no site oficial da editora. Somos apresentados a três histórias, cada qual com seu estilo único e seus próprios personagens, o que deve agradar a todos os tipos de leitores. Temos um conto híbrido de HQ, onde a escrita de Rafael Pombo se alterna com páginas desenhadas por Adriana Yumi, e logo em seguida uma história-jogo, organizada pelo autor em parceria com Willian Marinho. Por último, um conto com temática mais séria nos leva a uma outra faceta dos elementais, mostrando que nem sempre os poderes são usados para o bem, e que o mal pode ser muito pior do que parece.


A Revista Elementais é simples, mas vale o investimento. Acredito muito no potencial das Light Novels, portanto apoio qualquer iniciativa similar ao modo oriental de publicações, que apresenta aos leitores um novo capítulo numa revista semanal ou quinzenal até que forme um novo volume. Talvez, num futuro não tão distante, a Infinitum possa arriscar numa publicação do gênero. Esta revista foi a prova de que o material tem qualidade e condições de adquirir uma boa divulgação, nos resta incentivar a iniciativa e aplaudir pelas oportunidades oferecidas pela editora.

Enfim, acredito bastante no futuro da Infinitum, ainda mais agora que a equipe está fechando um acordo com a Tecno Fantasy, outra editora que me parece promissora. Confesso que não sou fã do formato virtual de publicações, mas não há como negar que os livros impressos estão perdendo seu lugar para os kindles ou ipads e suas obras digitais, o que torna possível carregar uma biblioteca para qualquer lugar. Ainda assim, ter a Revista Elementais em mãos me faz acreditar ainda mais no potencial dos autores nacionais, e ansiar mais e mais pelo desenvolvimento de nossa literatura fantástica, que adquire uma ousadia inesperada e atinge um público cada vez maior de leitores, divulgando estilos e gêneros variados, baseados nas culturas de diversas partes do mundo, inclusive nosso próprio folclore.
Seja em antologias, romances ou novelas, os brasileiros estão escrevendo mais, o que, em suma, é bom. Fico ainda mais feliz ao ver que as Light Novels estão sendo respeitadas pelos leitores, o que pode, futuramente, acarretar novos projetos e parcerias, assim como traduções das famosas novelas japonesas, muitas delas já disponíveis no Estados Unidos. Nos resta esperar, ansiosos, por esses dias onde mais e mais autores demonstram seus talentos nas páginas de um livro, ou no arquivo de leitura virtual de sua obra.
Até a próxima!

Nacionais - Novo site de Ledd no ar!


Olá, companheiros!
Passando rapidinho, apenas para divulgar a inauguração do novo site de Ledd HQ, a história em quadrinhos com roteiro de JM Trevisan, desenhada pelo talentoso Lobo Borges (que até hoje me dá sérios espasmos de Dragon Quest a cada nova ilustração, hehe) e publicada digitalmente por episódios que, após algum tempo, são reunidos numa compilação da Editora Jambô e distribuídos em livrarias e pela internet. O primeiro volume já está à venda, mas os 4 episódios iniciais estão disponíveis no site para aqueles que preferem ler de graça. Logo mais a primeira parte do 5º episódio deve aparecer por lá também, portanto, aproveitem o fórum e as notícias postadas no site oficial para conter a ansiedade pela continuação dessa história de ação e aventura.
O site continua o mesmo, e pode ser encontrado AQUI!

Até a próxima!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

HQ - Fúrias


Olá, companheiros!
Quem conhece Sandman deve conhecer essa obra de arte, apresentada no Brasil como uma versão de luxo de dar inveja em muitos quadrinhos internacionais por aí. Trata-se de Fúrias, uma HQ publicada pela Panini, que tem Mike Carey no roteiro e John Bolton na arte, com desenhos similares à realidade que nos cerca. Vendida por algo em torno de 23R$, Fúrias nos apresenta uma história sombria de mitologia grega em suas 96 páginas coloridas e bem diagramadas, com material de qualidade e artes de tirar o fôlego!

Confira a sinopse:

Cerca de dois anos atrás, Hyppolita Hall perdeu seu filho pequeno sob condições muito misteriosas. A falta do garoto é dolorosa e se faz sentir dia após dia em uma existência sem sentido.

O casual encontro com uma certa companhia de teatro leva Hall a revisitar seu passado e compreendê-lo melhor. Ao mesmo tempo, uma antiquíssima entidade ameaça por fim à sua existência.

É bastante válido a leitura, ou mesmo o conhecimento, da saga de nosso ilustríssimo Morpheus, passadas em Sandman (antigamente publicado pela Conrad, mas agora a Panini está trazendo de volta também). Ainda que possa deixar detalhes de lado, Fúrias tem uma história interessante, nos mostrando a pobre coitada Lyta em sua busca por um sentido na existência, ao mesmo tempo em que tenta entender os mistérios que cercam sua mente perturbada pela perda da família.
Com personagens importantes da mitologia da grega, como Cronos, Hermes e as próprias Fúrias, essa HQ nos apresenta um clima diferente do tradicional, no melhor estilo dark-fantasy de ser, mostrando que a Grécia ainda tem muito o que nos contar.
Até a próxima!

domingo, 22 de janeiro de 2012

Pirates! Tales


Olá, companheiros!
Postagem simples, apenas para divulgar um site que encontrei por acaso na internet só agora, e me arrependo muito de não acompanhar há muito tempo! Trata-se do Pirates! Tales, um quadrinho colorido e digital, distribuído de maneira gratuita para download ou visualização online nesta mesma página. Pirates! é uma obra de Yuri Landim, e conta com diversos personagens e arcos, no melhor estilo mangá de ser, com cenas hilárias e muito bem desenhadas. O melhor de tudo, é um trabalho nacional que, apesar de ser gratuito, tem de ser valorizado pelo empenho demonstrado em cada ilustração, em cada página (geralmente semanal) divulgada no site oficial.
Para quem já conhece, continue acompanhando, vale realmente a pena! Para aqueles que descobrem agora sobre essa obra de arte, não percam tempo! Passem pelo site oficial e já o deixem nos favoritos, vocês não vão se arrepender. Toda a tripulação da bizarra Marina Justice está disposta a lhe garantir excelentes momentos. Vai deixar essa oportunidade passar?
Pirates! Tales conta, atualmente, com 172 páginas onlines, além de um estardalhaço de conteúdo extra, como fan arts, artworks e biografias dos personagens. A história é dividida em arcos, e o próprio site disponibiliza um link das páginas pertencentes a cada parte da trama.
Parabenizo desde já o Yuri por sua iniciativa e por seus desenhos, assim como todo o trabalho que tem feito no site e nas histórias apresenteadas. É isso o que falta nos brasileiros, perder o medo de arriscar, de tentar algo diferente. E é isso o que eu encontrei por acaso no Pirates! Tales, e claro que não vou deixar de acompanhar esta hq digital!
E você, vai deixar essa chance passar?
Até a próxima!

Games - Amy


Olá, companheiros!
Postagem rápida, apenas para divulgar um excelente jogo disponibilizado logo agora, no começo do último ano do mundo (haha!). Estou falando de Amy, um jogo da Xbox Live e da PSN, que custa signelos 10 dólares, mas vale muito a pena por seu conteúdo.
Amy nos conta a história da garota homônima, uma criança emudecida por algum distúrbio anterior, que acabou de ser tirada de uma clínica e está sendo levada por Lana, a personagem que controlamos durante o jogo, para algum outro lugar. Tudo é um mistério, inclusive a tal doença da garotinha, e logo somos apresentados a um desenhoa macabro por parte dela, que antecede uma explosão no "hospital" que a abrigava e um acidente naquele trem em que ambas se encontravam. Lana, que estava no celular, sofre o ataque inesperado de um monstro similar ao homem que pediu os tickets do trem para ela, e cai inconsciente. Ao acordar, não mais encontra Amy, mas encontra muitas outras pessoas "transformadas", assim como o guarda que encontrou dentro do trem.
O jogo é sombrio, no melhor estilo dos Resident Evil antigos (inclusive a movimentação dura está lá!), sempre apostando alto nos sustos do cenário, o que acaba tornando massante os gritos de pavor de Lana. O gráfico é bom, mas nada comparado ao HD dessa geração, obviamente por se tratar de um jogo menor. O cenário é bem construído, e há muitos mistérios para serem revelados, o que apenas aumenta a expectativa do jogador.


A sistemática do jogo também é bastante válida, lembrando um pouco o sucesso Dead Space. Sua "energia" é medida com base na infecção, e três golpes das criaturas são o suficiente para lhe contaminar por completo. Para evitar isso, você encontra seringas com antídotos espalhadas pelo cenário, e deve usá-las com cuidado. Nas costas de Lana fica um dispositivo brilhoso, e ele mostra seu estado no tradicional "HP semáforo" dos RE também, sendo o verde bem, o amarelo meio infectado, e o vermelho o fim de sua vida. A barra de energia nas costas foi outra coisa herdada do Dead Space, mas enfim, deixemos isso de lado.


Vale ressaltar que Amy não é uma garota qualquer. Ainda não terminei o jogo, e mesmo que o fizesse não haveria spoilers aqui, mas quero dividir uma cena peculiar que logo percebi. Tanto Lana quanto um velho gordo que você encontra logo no começo do jogo são alvos de ataques dos "zumbis", mas não Amy. A garota sofre um abuso diferente, como se as criaturas absorvessem parte de sua energia, o que impregna seu corpo numa aura vermelha enquanto os monstros "sugam" tais coisas. É estranho, e aumenta o suspense das revelações finais.
O único modo de descobrir todas essas respostas é terminando o jogo, portando, não perca mais tempo! Entre na Live/PSN e desembolse 10 dólares num ótimo jogo de terror, você não vai se arrepender. Mal comecei Amy e já se tornou um dos melhores investimentos que fiz na PSN Americana (perdendo, é claro, para Infamous: Festival of Blood). É um bom jogo que nos leva às origens do survival, algo que foi perdido há tempos nessa febre de ação descontrolada e tiros para todos os lados.
Até a próxima!

Mangás - Zone-00


Olá, companheiros!
Passando rapidinho apenas para comentar uma nova aquisição. Recentemente comprei os três volumes pt-br de Zone-00, mangá do mesmo desenhista que ilustrou o mangá de Trinity Blood, cuja temática principal abusa dos demônios e seus mais variados tipos. Não me arrependi, o título é de qualidade, as artes são impressionantes e o cenário desenvolvido pelos autores é fantástico, com capacidade para abrigar histórias incrivelmente criativas! Porém, acredito que o roteirista que trabalhou em Zone-00 não tenha grande experiência na área da quadrinização pois, por vezes, o rumo do mangá se confunde nos quadros, perdendo o foco como se houvessem cortes em partes da história após o desenvolvimento primário. Cada capítulo nos mostra os personagens atrás de uma coisa diferente, o que confunde os objetivos e nos deixa um pouco perdidos no enredo, que até agora não apresentou uma trama principal além do clichê do demônio-foderoso-encarnado-no-corpo-de-um-garoto-inocente. Ainda assim, a leitura é agradável e, como disse antes, o cenário é muito criativo, o que faz Zone-00 valer cada centavo de seu preço. O trabalho da Panini é excelente, e espero que continue assim!


Zone-00 tem, atualmente, 3 volumes traduzidos para o português, enquanto a obra original se encontra em hiato no oitavo volume japonês (assim como o Trinity Blood, que recentemente recebeu seu 14º volume japonês e não tem uma data fixa para os lançamentos). Espero sinceramente que Zone-00 seja terminada e, se possível, receba uma versão animada, pois os personagens são muito bem desenhados e a originalidade das ideias, ainda que mergulhadas em algumas doses de clichês como o citado acima, faria bem ao mercado dos animes. Nos resta esperar e, enquanto isso, acompanhar os lançamentos nacionais da Panini.


Até a próxima!

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Paródias Nerd

Olá, companheiros!
Postagem rápida, apenas para divulgar uma área que encontrei recentemente no You Tube e gostei bastante, o Geekody! Feito pelo Screen Team, são vídeos que fazem paródias de músicas de sucesso, com temáticas nerds, seja jogos, filmes ou desenhos. Vale muito a pena conferir, os vídeos são realmente hilários, e o mais recente deles é Moves Like Batman, paródia da música Move Like Jagger, do Maroon 5. A playlist pode ser encontrada AQUI, mas deixo também o link de um vídeo muito legal, que foi uma homenagem feita pelo Chad Nikolaus para a sua namorada, Angie Griffin. O vídeo pode ser encontrado AQUI, e é uma homenagem a todas as garotas nerds, em especial aquelas que namoram outros garotos nerds e compartilham deste gosto durante toda a vida. Deixo aqui minha homenagem para uma garota assim, e ela sabe muito bem quem é, hehe.
Até a próxima!

Nova Antologia à venda no PerSe


Olá, companheiros!
Postagem curta, apenas para avisar que mais uma coletânea de contos foi disponibilizada para venda em versão impressa no site de publicação independentes PerSe. Trata-se de 'No Ferro, No Fogo, No Fim', uma antologia de contos variados, desde a fantasia clássica até o estilo Final Fantasy de ser. A capa é de Thais Soares de Oliveira, a Tagome, e os contos são todos meus, mas variam na temática e no gênero. A coletânea pode ser encontrada NESTE LINK, conta com 164 páginas e custa 26R$.
Até a próxima!

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Conto - Senhora dos Espectros

Olá, companheiros.
Dobradinha de contos esta noite, e por sinal temos outra história ambientada em Elhanor! Senhora dos Espectros conquistou uma vaga na antologia Moedas para o Barqueiro 3, da Editora Andross, mas fiquei de fora outra vez. O texto está aqui, de qualquer modo, assim como está presente na coletânea 'No Ferro, No Fogo, No Fim', disponível à venda no site da PerSe (o link pode ser encontrado na aba Publicações, à esquerda <). Sem mais demoras, confiram o conto, espero que gostem.




—Esperei tanto por esse momento —disse o jovem. Seus olhos, banhados pela felicidade que inflamava sua vida, eram serenos, castanhos e sinceros. Os lábios pouco se moviam, e o rosto de guerreiro, naquele momento, era o de esposo, de amado, de apaixonado. A espada, presa ao cinto numa bainha perolada, pouco serviria após aquele instante. Sua vida mudaria. Adeus às batalhas, adeus às guerras, ao sangue e à morte. Seria um recomeço, um novo início, diferente de tudo o que imaginou para si.
Puxou as mãos da linda donzela que o admirava, e as beijou.
Lhénes tinha olhos divinos, azulados como o mar mais puro de Elhanor, e um rosto de anjo, claro e macio, cabelos de um louro tão claro que quase se confundia em sua pele alva. As orelhas miúdas se escondiam tímidas, sob os cachos que contornavam seus fios, desenhando nos ares com fios dourados e finíssimos. Ali, naquele momento, recebera a declaração de Hadril, seu amado, um guerreiro valoroso que abandonou o campo de batalha para se unir àquela por quem se apaixonou. Ali, aquele homem que nunca tombou na guerra, ajoelhou-se por vontade própria e puxou suas mãos, presenteando-a com um anel do mais puro ouro e com um pedido de casamento, e ela não poderia recusar. Fora seu sonho, mas não sua sina.
Lhénes tinha uma história diferente para esconder do mundo.
—Eu estou muito feliz, Hadril —disse a jovem, as bochechas coradas, tomadas por uma felicidade incontrolável. Seu vestido verde-água sacudia, carregado pela brisa, e vez ou outra revelava sua marca de nascença, seu fado, sua maldição, um par de asas negras traçadas em sua coxa, miúdas, eternas, sombrias. —É claramente o dia mais feliz de minha vida.
—Teremos uma vida de grandeza, milady —ergueu-se o cavaleiro, a armadura prateada cintilando pelo sol poente. —Bravura e ingenuidade, força e sabedoria, nada poderá nos abater. Viveremos juntos, para sempre.
—Hadril... —Lhénes murmurou, talvez para si mesma, e sua tristeza emocionou o cavaleiro, que se postou ao seu lado.
—Estás triste, minha dama? Imaginei que meu pedido seria motivo de felicidade. Se não é o que desejas, não me aceite, milady. Não sou o bruto que aparento, e sei entender as vontades de uma senhora.
—Não, não pense isso, por favor! É que... —Sua mão acariciava a pele, a marca. —Eu tenho uma praga. Sou amaldiçoada.
O pôr-do-sol se findou, e o céu, ainda manhoso, começava a se escurecer. As primeiras sombras surgiram, e trouxeram junto delas os mortos, nascidos das rochas da montanha, do vento e do ar, carregados pela maldade e pelo ódio, sem olhos, sem bocas, sem corações. Eram muitos, e eram tolos, munidos de machados e lâminas envenenadas, escudos partidos e elmos de espinhos imundos. Esqueletos, homens de carne pútrida, fantasmas e carniçais, todos sedentos por sangue e pela infelicidade daquela jovem.
Lhénes soluçou, o choro encharcando seu rosto puro. Enganara a morte muitas vezes, mas sabia que, naquele dia, não seria capaz.
—Proteja-se, milady —mandou Hadril, mas ela não se protegeu. Não era o seu sangue desejado pelos mortos. Era o dele.
Hadril lutou feito o herói que era, a lâmina deixando a bainha feito um trovão, partindo ossos e carne podre, distribuindo morte aos mortos, o preço pelo pecado e coexistir com a vida correta. Um tombava, dez surgiam, e logo um pequeno exército cercava o pobre guerreiro, o rosto coberto pelo suor do esforço, os olhos tristonhos pela perda que logo viria.
—Fuja, Lhénes! —choramingou o valente combatente, golpeando com fúria e desespero. —Eu volto para te encontrar! Nunca vou te abandonar, milady! Vamos ficar juntos por toda a eternidade!
Lhénes não fugiu.
Recorreu à magia. As luzes e chamas dançaram em suas mãos, e ela castigou os mortos, fustigando-os com lampejos de cores sem fim, destruindo corpos sem vida, sem mente, sem vontade. Açoitou dezenas, centenas, mas o flagelo se reerguia, numa tormenta de guerreiros do inferno, banhados pelos pecados de seus passados inglórios, de suas vidas tenebrosas e malignas. Fantasmas gemiam, zumbis e esqueletos atacavam incessantes, e Lhénes gritava, apavorada, vergastando o exército com todo seu poderio encantado, mas nenhum deles se virava contra ele, ignorando-a, como o mundo todo o fazia.
Hadril, ao centro da turba fétida, tombou, e sua armadura não seria o suficiente. Dúzias saltaram sobre ele, monstros famintos e cruéis, e Lhénes nada pôde fazer. Ouviu os gritos, abafados pela selvageria dos mortos, e seus olhos explodiram em lágrimas, e logo o azul límpido se perdeu, junto de sua pureza. As chamas que a circundavam cessaram, a magia desapareceu, e a marca de asas em sua pele irradiou, negra, terrível, e o céu escureceu sem avisar, soprando as nuvens claras para longe, de súbito.
Gritou. Junto de seu grito, milhares, ou milhões de almas gritaram, um despejo de morte e ira, uma cachoeira de lágrimas de dor e sofrimento, um turbilhão de sentimentos complexos e disformes, unidos na voz de uma donzela e seus incontáveis súditos. O azul de seu olhar não mais existia, e lá estava o violeta, o negro, as trevas e os vultos, a morte e a morte, e só. Levantou seus braços, e sua pele clareava ainda mais, num pálido tenebroso, quase transparente, e sua ordem nunca deixou seus lábios, mas todos a obedeceram ainda assim, curvando-se perante a nova governanta, a nova rainha. O vestido claro desapareceu, e seu corpo vampírico foi coberto por um manto negro, de um tecido sombrio onde almas se perdiam, deslizando pela vestimenta num castigo infinito.
—Parem —murmurou, e sua voz se fez terrível, e todos os mortos se afastaram. O caminho, um corredor entre os servos curvados, guiou até o cavaleiro, seu antigo amado, que sua mente a forçava a esquecer. A armadura, banhada por sangue valente, era marcada por pancadas e mordidas, presas que amassaram o metal, penetraram na carne. Braços e pernas arrancados pela fome estava atirados ao solo, disformes, e a cabeça jovem de um guerreiro repleto de sonhos rolava pelo chão montanhoso.
—NÃO! —bramiu ela, e o exército de cadáveres ao seu redor se desintegrou por sua vontade, deixando apenas poeira pútrida, carregada pelo vento para as planícies abaixo. —Não. A morte não pode nos separar. —Seus olhos cintilaram, tomados por chamas escuras e ferventes. A mão albina tocou o corpo do guerreiro, que tremulou. —Vamos ficar juntos por toda a eternidade. Viveremos juntos, para sempre. Se não há vida, não há morte. VOLTE PARA MIM!
E Hadril obedeceu, sem hesitar, erguendo-se feito o morto que era, os olhos perdidos, vazios, a mente aberta, sem vontades, o corpo obediente, como uma marionete. As pernas voltaram, os braços se uniram, e o corpo completo buscou a cabeça, prendendo-a em seu lugar outra vez, por mais que a pele não se restaurasse dos cortes e das marcas de sua morte.
—Às suas ordens, milady —disse o cavaleiro das sombras, curvando-se sobre o joelhou estourado.
Lhénes derrubou a última de suas lágrimas. Viu, mas não com seus olhos, as mortes de todos, daqueles que se perderam há milênios, daqueles que morreriam nos dias seguintes, daqueles que acreditavam na imortalidade. Via a morte de Hadril, e sentia seu desespero, seu pânico, sua vida se esvaindo de seu corpo valente. Não mais chorou.
Após aquele dia, não seria mais a mesma. Após aquele dia, não existia mais fraqueza, dor ou sofrimento. Não existia mais Lhénes, a maga, a frágil, delicada e estudiosa donzela, orgulho de seu povo e de seus pais.
Ali, nas montanhas da Ilha de Wasurn, despertara Lhénes, a Senhora dos Espectros, uma nova etérea de Elhanor, protetora do mundo, da vida. A Dama da Morte.
E, ao longe, no mundo dos mortos, os juízes esperavam por Lhénes e Hadril, vislumbrando sua morte, pressentindo sua chegada. Mas eles nunca os viram.

Conto - Johan e Aveline

Olá, companheiros!
Trago hoje mais um conto situado em Elhanor (o segundo no site, me desculpem por isso, hehe). Johan e Aveline é baseado no conto de fadas João e Maria, basicamente uma versão convertida para a mitologia deste cenário. Espero que gostem do texto, e não deixem de comentar!



A tarde tombava perante a tormenta de estrelas noturnas, e a lua logo cintilou em seu lugar, minguante, brilhosa e, mais do que nunca, sombria. Entre os ramos tenebrosos das árvores, ouvindo o caminhar das aranhas e o farfalhar das plantas, os irmãos, agora arrependidos pela fuga súbita, aceitaram a realidade que tanto temiam: estavam perdidos.
—Johan, nós vamos morrer —disse a garota, o rosto banhado por suor frio, apavorada por estar desprotegida sob a noite.
—A ideia foi sua! —disse o garoto, afastando as folhas para buscar um caminho seguro, o que talvez fosse impossível.
Na verdade, a ideia fora de ambos. Moravam em Jotur, a capital de Mekharia, reino das máquinas e da pólvora. Jotur era uma cidade turbulenta, e todos estavam sempre trabalhando, indispostos para sorrisos e brincadeiras. Era um lar tedioso para crianças, ainda mais para as hiperativas, como aquele par de irmãos. Aproveitando-se da desatenção do pai, fugiram, e os gêmeos correram até alcançar a Floresta da Noite Eterna, famosa por suas histórias macabras. Não bastasse isso, chegaram pouco antes da noite, e o breu piorava muito as coisas.
—Qual é o plano? —sussurrou Aveline, bem próxima, assustando o valente guerreiro que a guiava.
—Criar um plano —respondeu ele. Aveline resmungou, mas Johan tapou sua boca com uma das mãos, e sinalizou para que ela se calasse.
Apesar de gêmeos, os irmãos eram muito diferentes. Aveline tinha fios castanhos, cachos volumosos e rosto magro, e gostava de livros, em especial sobre piratas. Johan tinha bochechas largas, cabelos maltratados e músculos em desenvolvimento, apesar das cicatrizes nas pernas, lembranças de teimosias e irresponsabilidades. Apenas uma característica os definia como gêmeos: os olhos, grandes e castanhos, foscos como nozes caídas das árvores. De resto, eram tão invertidos quanto uma imagem no espelho.
—Olhe —murmurou Johan, e Aveline o escutou. Acalmou-se, silenciou e, atenta, observou.
Entre as árvores, à frente, um monstrengo se arrastava pelo lodo, manchando a pele cinzenta de barro e musgo. Uma de suas pernas estava partida, o sangue jorrando no solo pantanoso, o osso desenhando conforme raspava a terra molhada. Atrás dele, um imenso lupino surgiu, as presas banhadas em sangue fumegante, as garras prontas para triturar outra refeição. Temerosos, não tiveram reação alguma, mas alguém os puxou pelos ombros antes que as criaturas os notassem. Gritaram, mas as vozes falharam, e uma bela jovem os tranquilizou, o rosto sereno enchendo-os de paz.
—Não gritem —pediu a linda mulher, os cabelos azulados caindo sobre os olhos. —Vou levá-los daqui.
E levou, em silêncio. Guiou pela floresta até que, entre as sombras, encontraram uma pequena casa rústica, trabalhada na madeira das próprias árvores ao redor, coberta por imundice de animais e tocas de insetos venenosos. A mulher fez sinal para que entrassem, e os seguiu, fechando a porta atrás de si com um rangido.
Assim como seu exterior, a parte de dentro da casa era simples, nada além de um chalé miúdo, limpo e quente, com poltronas confortáveis e lamparinas nas paredes. Uma mesa ao guardava diversos livros, empilhados ao lado de uma vela apagada, talvez um local para estudo daquela bela mulher.
—Cheguei à tempo de salvar vocês dois —sorriu a estranha, e seus olhos maravilharam os irmãos, dotados de brilhos mais fortes do que a lua que irradiava acima do chalé. —Essa floresta é perigosa, ainda mais para duas crianças. Sou Aria.
—Prazer, Aria, mas não somos crianças —disse Aveline, mas seu irmão não a defendeu. Estava ocupado demais admirando o rosto angelical da moça, que agora sorria ainda mais contente.
—Que assim seja —brincou ela. —Por que não se sentam ali? Vou buscar algumas coisas para vocês comerem. Esperem só um minutinho.
Deixou os gêmeos, que se acomodaram num par de poltronas acolchoadas, mas logo voltou, carregando bolos, pilhas de biscoitos decorados e sucos deliciosos, bandejas estufadas flutuando ao redor de seu corpo, o que era estranho, mas não para ela. Serviu os irmãos, famintos pela adrenalina da fuga, e comeram tanto que até se esqueceram da bruxaria usada por ela pouco antes.
—Estão mesmo com fome, hein? —sorriu a donzela. Comam o quanto quiserem. Depois, ajeitem suas coisas e se preparem para descansar. Tiveram um dia cansativo, posso sentir.
—Obrigado pela hospitalidade —disse Johan. A cada mordida nas delícias da mulher, sentia os braços formigarem, mas não era um incômodo se comparado ao sabor maravilhoso da refeição.
—Ora, não me agradeçam! É o mínimo que posso fazer em troca de uma companhia agradável como a de vocês. Agora, se me dão licença.
E saiu, deixando as crianças comerem até que seus estômagos reclamassem. Johan ajeitava as coisas para dormir, jogando almofadas costuradas no tapete macio, quanto sua irmã o abordou.
—Não acha estranho? —perguntou ela. —Alguém aparecer no meio da floresta e nos ajudar desse jeito?
—Estranho seria não aceitar —sorriu Johan, e deitou. —Boa noite.

Nos das seguintes, comeram tão bem quanto naquela primeira noite. A cada dia, Aria parecia mais formidável, o corpo robusto e sedutor colado às vestes justas, os cabelos fabulosos brilhando. Sempre os servia com simpatia, e aquela sensação estranha no corpo, apesar de mais frequente, não os assustou. Sequer sentiam vontade de deixar o chalé, tamanha a bondade encontrada na mulher, que estava sempre ali, sorrindo e cuidando deles, diferente do pai que abandonaram em Jotur.
Num dia, Aria se despiu, deixando as roupas penduradas na porta do banheiro, e Johan a seguiu. Estava impressionado com a sua beleza, e queria conhecê-la melhor, admirá-la, ver cada canto daquele corpo escultural. Esgueirou-se nas sombras e, feito um gatuno, espiou. Quase tombou pelo espanto.
Na banheira, não havia nada de Aria. Era uma velha, a pele ressecada em dobras, manchada pela idade e marcada por cicatrizes enormes, e algumas partes descascavam sozinhas, cheirando a fezes de animais. Seus seios murchos sacudiam por seu corpo, feito pêndulos, as mamas pontiagudas como lâminas. Seu nariz era comprido e imundo, despejando gosmas amarelas vez ou outra, de acordo com sua respiração. Não parecia a mulher que tão bem os tratava, mas, quando ela se virou, seus olhos esbugalhados encontraram os de Johan, e eram os mesmos, por mais que horrorosos agora.
Fugiu. Correu até sua irmã, e a encontrou no cômodo principal, despedaçada. Erguia uma de suas próprias pernas, e a mastigava com ferocidade, como um pudim delicioso oferecido pela bruxa, e agora Johan entendia. Aqueles formigamentos, tudo aquilo era falso. Olhou para seu próprio braço, estraçalhado por mordidas famintas de suas próprias presas, a carne viva e os ossos à mostra num ferimento terrível. Sentiu a dor, acumulada pelas ilusões, e gritou, despertando assim sua irmã para a realidade, e os gritos de Aveline eram ainda piores.
Aria surgiu, vestida nas roupas tradicionais, mas ainda feito a velha macabra que era. Sorria, desabando seu hálito podre sobre os gêmeos, os dentes amarelos caindo vez ou outra pelo chão do chalé, que agora não passava de uma construção maltrapilha no meio da floresta.
—Ah, me desculpem, não me apresente propriamente —disse a bruxa, e seus olhos mudaram, agora finos como os felinos. —Sou Aria, devoradora de sonhos. Diretamente das profundezas, me alimento da ingenuidade e da inocência das crianças. É uma pena que tenham perdido a de vocês tão rapidamente, meus gêmeos queridos. Agora, serão descartados, e terei de encontrar outros.
Descartados não soava bem. Aria abriu uma bocarra grotesca, e engoliu os irmãos, que mal suportavam a dor da carne que eles mesmos mastigaram por dias. Os gritos sumiram na garganta pútrida da bruxa, que arrotou, indelicada, e esfregou o estômago.
—Crianças —disse para si mesma, voltando a ganhar a forma de uma linda donzela de cabelos azuis e belas curvas. —Vocês são deliciosas.
E saiu, em busca de um novo prato de ingenuidade.



Até a próxima!

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Resenha - O Caminho para o Poço das Lágrimas


Olá, companheiros!
Hoje falaremos de outro livro nacional, do talentoso André Vianco. Trata-se de seu 13º romance, chamado O Caminho para o Poço das Lágrimas, muito diferente de tudo o que o autor já fez. Neste livro, somos apresentados a um trio de personagens, Jonas, Ingrid e Bosco, que seguem por um caminho peculiar e repleto de surpresas, agradáveis e desagradáveis, cada vez mais nos apresentando a um cenário fantasista que guarda muitas revelações para o final.
O Caminho para o Poço das Lágrimas é um livro relativamente curto, com suas quase 200 páginas divididas em 52 capítulos, o que por vezes traz capítulos com apenas meia página, ou apenas 2. Acho isso uma facilidade dificilmente explorada, pois temos a possibilidade de parar a leitura sempre que for preciso, sem que seja necessário marcar uma página aleatória no meio de uma sequência de páginas. A escrita utilizada por André Viando é simples e de fácil entendimento, o que possibilita a leitura deste romance por uma criança, ainda que a temática seja um pouco adulta. As ilustrações que acompanham a história, de Lese Pierre, são fabulosas e ajudam bastante no compreendimento das passagens criadas pelo autor. O estilo de escrita e as imagens espalhadas pelo livro tornam esse romance um belo exemplo do estilo das Light Novels, para quem se interessar em conhecer.
O livro nos conta a história de Jonas e seus dois filhos, aparentemente buscando o carro que está consertando, mas logo percebemos que há algo diferente acontecendo. O autor não tenta nos enganar, deixa pistas e revelações para que saibamos da verdade logo de início, o que acreditei ser um erro por tirar o efeito surpresa das últimas páginas, mas estava enganado. Temos uma reviravolta não tão surpreendente no final, mas ainda assim um tanto inesperada, devido ao fato de já estarmos acostumados àquela verdade desde as primeiras palavras do livro. A temática, como disse, é um pouco adulta, ainda que retrate muitas passagens pelos pensamentos infantis de Ingrid e Bosco. Repleto de referências e cenários confusos, André nos guia por um mundo sobrenatural e fantástico, onde encontramos mensagens de vida e lições de moral, espalhadasem velhos de cachimbo, aranhas e formigueiros.
Um aspecto negativo que encontrei foram alguns parágrafos enormes. Há capítulos de duas ou três páginas escritos de uma só vez, sem pausas de parágrafos, o que por vezes torna a leitura massante. Não sei apontar se foi uma decisão do autor ou um erro na revisão da editora, mas esta caracaterística se torna mais comum conforme passamos da metade do romance, o que, em suma, não atrapalha o entendimento da história.
Concluo recomendando esta obra nacional para aqueles que gostam de histórias com relações familiares e ensinamentos, pois O Caminho para o Poço das Lágrimas tem muito disso. Li o livro em dois dias e gostei do que vi, é realmente uma obra de qualidades únicas e criatividade ímpar. Tem seus erros, mas vale cada centavo pago, e são poucos, não deixe de garantir a sua! Sinto-me um pouco errôneo por esse ter sido meu primeiro livro do André Vianco, mas logo vou buscar outros para conhecer mais um dos mais renomados autores nacionais.
E você, pretende trilhar este caminho árduo e doloroso?
Até a próxima!

Nanuka, Camundo e Caricatura

Olá, companheiros!
Postagem rápida, apenas para agradecer ao nosso querido amigo Nanuka Andrade, o talentoso escritor da série Camundo e do livro Ladrão de Destinos, e também ilustrador de capas e de muitos outros trabalhos, pela caricatura que recebi ainda esta semana no meu e-mail. Pretendia comprar o livro Camundo logo no início do mês, mas por sorte acabei ganhando-o numa promoção da Underworld, sem dúvida uma das melhores editoras do país atualmente. O livro ainda não chegou, mas a caricatura, uma segunda promoção válida para todos aqueles que comprasse (ou ganhassem, hehe) o livro até o início de janeiro, já está em minhas mãos, e venho dividir aqui o talento desse desenhista/escritor. Não deixem de conferir Camundo, que logo mais deve ganhar uma resenha aqui no blog. Sem mais demoras, vamos à caricatura.

Até a próxima! :)

sábado, 7 de janeiro de 2012

Conto - Sem Remorsos

Olá, companheiros.
Trago hoje um conto mediano, com suas quase 3000 palavras, chamado Sem Remorsos. É baseado na música do Metallica de mesmo nome, No Remorse, e foi escrito originalmente para a antologia Sexo, Livros e Rock & Roll, da Editora Estronho, mas acabou ficando de fora.
Sem mais demoras, segue abaixo o conto.

O bipe das máquinas era tortura para a mãe, agarrada à filha, aos resquícios de sua vida.

Estirada sobre uma cama de hospital, descansava, o rosto simpático, um sorriso suave escondido no semblante inerte. Descansava há seis anos, desde seu acidente, e a mãe jamais descansou. Esteve sempre ali, ao seu lado, os dedos entrelaçados a sua razão de viver. O avanço da medicina permitia-lhe viver, mas não auxiliava em sua recuperação.

Seis anos, sem sinal de despertar. Medicamento algum era capaz de ressuscitar alguém marcado para morrer, o coma era apenas o sinal amarelo, o tempo de esperar a sua vez. A mãe sabia, mas não se deixava abater. Mantinhas as esperanças, ansiando pelo dia em que a filha voltaria a si, abrindo seus belos olhos, expressando sua vontade de viver num sorriso amplo e gracioso.

Mas não havia vontade de viver.

Era o que os médicos diziam, todos os dias, todo o momento. A garota não desejava voltar. Seu corpo recusava a ajuda, interferia nas máquinas, evitava a cura. A paciente não desejava a vida, e a medicina a obrigava a manter-se ali, sofrendo um tormento eterno contra sua dor, perdida nas lembranças, nos sonhos, nos pesadelos.

—Ela não vai voltar —disse um médico, num dia que ela não soube contar.

A mãe não desistia.

—Não há meio de proteger sua filha —palavras do mesmo homem que tanto a apoiou, que a mostrou um caminho, uma esperança. —Ela viveu o que lhe foi permitido. Quer descansar, agora.

Chorava, o pranto era um córrego, deslizando pelos olhos que ofereceu de herança à prole. O cabelo se misturava ao rosto, encharcado pelas lágrimas, mesclava-se ao suor de seu nervosismo. Na mente, lembrava-se da curva, do acidente, do carro tombado. Perdera o marido, o filho mais novo, a felicidade. Não poderia perdê-la também.

—Deixe-a partir —sugeriu uma doutora de olhos verdes. —Não mais suporta esta situação. Estamos aprisionando-a onde ela não deseja ficar.

Soluçando, a mãe se apoiou no corpo da filha, sentiu a respiração delicada, quase morta.

—Não posso perder você —choramingou, pensando alto, não se importou com os doutores. —Não posso viver sem você. —Os olhos eram sofrimento, olheiras enormes mostravam a insônia e a exaustão. —Me diga uma solução!

Um doutor pigarreou, encostou a porta atrás de si.

—Eutanásia —impiedoso. A mãe engoliu a dor. —Não há outra saída.

***

Enxerguei alguém no céu.

Tinha asas.

Era um campo vasto, tomado por flores coloridas, uma cachoeira caía distante, estrondando contra um lago límpido e perfumado. As árvores dançavam, movendo os galhos em ângulos estranhos, tentavam alcançar o sol fervoroso com sua folhagem verdejada. Plumas deslizaram pela brisa, silvando junto da melodia do entardecer, senti vontade de dançar como as árvores. Não podia. O crepúsculo me presenteou com sua beleza, fez-se um clarão no céu. Olhei para o alto, vi olhos claros, azuis como o lago, pele de bebê. Vi asas, alvas e macias, elas me abraçaram numa carícia.

Era um anjo.

Vestia uma túnica delicada, a qual protegia sua pureza, mas não havia timidez. O tecido era largo, caía sobre suas pernas, a pele surgia entre frestas miúdas, pálida e serena. O cabelo era um ninho de caracóis dourados, brilhava junto da estrela que nos iluminava, quis tocá-lo. Mesmo que longe de minhas mãos, sentia a maciez de seus cachos, a fragrância de seus fios. Acomodei-me, respirei com prazer fora do comum, preenchi meu peito com a paz que exalava de seu corpo celestial.

Tentei me livrar de seu abraço, falhei. Era quente, mais do que o sol poderia ser, fez meu corpo suar. Os braços finos e femininos cheiravam como rosas, as plumas brancas alisaram minha pele, eriçando os pelos. Minhas pernas tremeram, vivas. Tentei me levantar, não pude. Mesmo tocado por um anjo, ainda era incapaz, e a cadeira de rodas privou-me de meus sonhos, de meus desejos, de minha vida.

Senti o tremor de meus músculos, os nervos num esforço repentino. Tremia, parte pela excitação do contato com aquele filho da perfeição, parte pela vontade de me superar. Forcei os braços, as rodas metálicas escorregaram no gramado úmido, o anjo não me deixou cair. Senti seu corpo sobre o meu, o toque, a vida. Joguei meus fios negros para trás, limpei o suor do rosto, fechei os olhos. Toquei a natureza com um dos pés descalços, senti o verde me molestar, permiti. As cócegas me fizeram rir, só então percebi que as sentia. Sentia a diversão, as pernas, a capacidade.

Então, me levantei, e a cadeira de rodas partiu, sozinha, para longe de mim. Em pé, mesmo que trêmula, me agarrei ao ser angelical, ainda temia o chão. Ele me ofereceu apoio, conforto e tranquilidade, uniu meus lábios aos seus, os olhos se fecharam. O medo se foi.

Estava ali, sobre as pernas que nunca pude usar, sentindo a umidade da terra, a sujeira do mato. Parei de hesitar, livrei-me do abraço divino, o anjo não se importou. Abri os braços, tinha equilíbrio, nada restou do medo. Caminhei, um passo, então outro, e um terceiro. Corri, tropecei nos primeiros instantes, então não mais, e corri como a criança que era, gargalhando e brincando e vivendo.

Aquele era o meu mundo, perfeito, como desejei.

Lá fora, eu morria. Não me importava.

Fechei os olhos, a escuridão me tomou, não mais vi árvores. A luz surgiu com fulgor, agitada e amigável, esquentou meu corpo. Levantei-me, sabia andar. Ouvi o ronco dos motores, os carros aceleravam, apressados. Derramei lágrimas, não soube dizer o motivo. Quis chorar, me segurei, a felicidade por poder caminhar era superior. As pernas me obedeciam, mas não a tristeza, e ela escorreu em meu rosto com pesar.

—Saia da frente, maldito!

—Pare de buzinar!

—Morram todos!

—Saia da minha frente!

Era uma avenida movimentada, o solo pavimentado usado como pista de corrida. Ninguém se respeitava, ninguém escutava o apelo dos demais. Cada um, dentro de seu veículo, vivia para si, e para mais ninguém. Batiam, destruíam o metal de seus automóveis, esbarravam em motociclistas, lançavam seus corpos ao ar. O fogo surgia, crepitava em frenesi, os destroços fumegavam de maneira assustadora. Então, um homem limpava a tudo, e os outros voltavam a correr, e aceleravam, sem pensar, e então batiam, e outra vez, e outra, e outra.

—Tirem essa sujeira da rua!

—Sumam daqui!

Ao meu lado, um ganido me assustou. Agachei-me, abaixo dos destroços dos automotores, que trespassavam por meu corpo como fariam a um fantasma. Eram gatos, pomposos e peludos, escondidos nas sombras dos escapamentos. Um deles estava estirado no solo, atropelado por dezenas de carros, o corpo jazia sem vida. O outro, maior e mais lento, não abandonava. Arriscava-se naquele local, sem temer aos demais veículos. Acariciava o corpo do amigo, lambia-o, empurrava-o com o focinho, implorava. Por dentro, conseguia ouvir seus pensamentos. Entre miados e lamúrias, entendia-os, e os lamentos de Não se vá! e Não me abandone, pai! me castigaram. A dor daquele animal me tomou, fez meu peito arder; cobri os seios com as mãos, sentindo o coração palpitar, descontrolado. Busquei pensamentos bons para afogar meu sofrimento, não encontrei. Talvez não houvesse.

Senti vontade morrer, mas já morria.

Despertei de uma piscadela, estava em uma casa. Encontrava-me sentada em uma poltrona, talvez no centro de uma sala de estar, o estofado me serviu com aconchego. A lareira à minha frente estalava em chamas, deixava a fumaça espiralar, cheirando a marshmallows. Toquei meu corpo, era eu mesma, senti minhas pernas. Levantei-me; naquele momento, não desejava me sentar nunca mais. Caminhei, vagarosa, e temia aquilo que encontraria.

Ouvi gritos.

Eram garotas, gritavam apavoradas. Segui as vozes, tateando as paredes de tijolos para me guiar. Abri uma porta qualquer, encontrei a mãe dormindo, o travesseiro sobre os ouvidos: não queria escutar. Sabia da verdade, mas não desejava vê-la. Escondeu-se em sua cama, deixou que as filhas gritassem, não se intrometeu.

Encontrei-as no cômodo seguinte, e o cheiro de sangue me nauseou. Eram três, a mais velha tinha sete anos. Sangravam. A caçula, pouco maior que três verões, estava amarrada por cordas firmes, o corpo sacudia no teto do quarto, gotejando sangue dos cortes em seu corpo. A irmã do meio chorava a um canto, os olhos inchados por pancadas, os joelhos dobrados entre os braços num gesto de proteção. A mais velha estava atirada em uma cama, nua, as pernas arreganhadas, o sexo coberto pelo fedor de seu padrasto, que a estuprava. Gritava, e assim faziam suas irmãs, e então a tortura.

—Calem a boca, vadias!

Queimava-as com cigarros, cortava seus corpos ingênuos com facas e navalhas, socava-as sem hesitar. Forçava o membro para dentro da garota, a pele recoberta por sangue, o hímen rompido com violência, de maneira grotesca e precoce. Ouvia os gemidos, eles me fizeram sofrer. Ouvia, além dos gritos das garotas, o choro da mãe. Escutava as filhas gritarem, pedia a deus para que elas pudessem viver, superar, esquecer. O homem as violentava, destruías suas infâncias, suas existências.

Eu assistia, sem poder evitar. Por vezes, senti vontade de vomitar, ou mesmo de atacá-lo, impedi-lo. Não o fiz, pois de nada adiantaria. Era apenas uma visão, um castigo para meus olhos. Podia andar sobre minhas pernas incapazes, pois aquele era o meu mundo, irreal e perfeito.

Por que via aquelas coisas, então?

Desejei não ver, pedi pela perfeição, implorei para que os gritos parassem. Nada. Tormento, pânico, pranto. O sofrimento era eterno.

Vi-as por dentro, e as vozes ribombavam, ecoando na imensidão de seus corpos juvenis. Me deixe viver!, pedia uma delas, Devolva os meus brinquedos!, gritava outra. Quero minha inocência de volta!, implorava a mais velha, Quero viver!

E, ainda que tudo aquilo ocorresse, desejava viver. Eu, em meu mundo, não me importava com a vida.

Começava a entender.

Caí no vazio, pai e filho caminhavam, as mãos dadas. O palco era uma calçada de cimento áspero e disperso, onde poucos caminhavam. Um homem os seguia, touca no rosto, arma na mão. Um assaltante.

Abordou-os, pediu por dinheiro, o homem não tinha. Vi em seus olhos a humildade da família, as dificuldades, os sacrifícios que fizera pelos filhos. O ladrão gritava, o garoto chorou, o pai tremia, sem reação. Em momentos de nervosismo, a mente falha, e assim aconteceu. O homem se revoltou, reagiu, tentou desarmar. A pistola disparou, sem mira, abriu o peito do pai, o sangue manchou o rosto do filho. O assaltante pegou a carteira que desejava, sem saber que estava vazia, correu para sua liberdade. O pai tombou, sangrava muito. Deitou-se na calçada, ninguém ofereceu ajuda. O filho se ajoelhou ao seu lado, urrou pelo pesadelo a que era submetido.

—Pai! —em desespero. —Pai!

O homem agonizava, tossia sangue, mas não chorou. Em seus últimos segundos, agarrou a mão do filho, beijou-a, melecando a pele com seu sangue.

—Não sofra —balbuciou. Arfava. —Você tem que viver. Você tem que viver...

—Pai!

Vi além, e o garoto morria por dentro, perdendo aquele a quem mais amava. Perdia aquele que sempre o acompanhou, que lhe mostrou a vida, o ensinou a andar, a falar, a viver. Acariciava o cabelo do pai, mas por dentro, era ele quem precisava do carinho. Chorou, sozinho no mundo, enraiveceu-se, gritou. Pude ver sua dor, não soube definir. Vi, dentro do filho, a vontade de viver, sem o pai, mas pelo pai. Não praguejou contra a vida, pelo contrário. Praguejou contra o mundo, decidiu que seria alguém, que seria diferente, que tentaria trazer a mudança. Quis a vida, não a morte. Quis viver, e viveria.

—Eu te amo, filho...

Fechou os olhos e, nos braços do garoto que criara, morreu.

Chorou, como criança, como menina. Recompôs-se, levantou, foi embora.

Queria viver.

Senti o toque do anjo, suas asas se dobraram sobre meu corpo. As pernas falharam, tropecei no lugar, me segurei em suas plumas. Levantei-me, olhei em seus olhos, sorri, mesmo que não soubesse como era um sorriso. O mundo ao meu redor brilhava, tomado pelo sol, pela vida.

—O que você quer? —o anjo me perguntou, e sua voz era um cântico. Senti aquela aura me circundar, um agrado em minha pele, em meus ouvidos, em meu rosto. Deitei-me no vento, abri os braços, deixei que o ar me levasse para o céu.

Pensei.

—Quero viver —enfim.

***

A sensação era terrível.

A mãe via a filha na maca, sem chances de se recuperar. O corpo jazia, inerte desde anos atrás. O rosto ainda era belo, mesmo que abatido pelos medicamentos. Ver aquilo era terrível, mas nem de perto tão ruim quanto ter os botões que mantinham sua filha viva nas mãos.

—Basta que acione esse botão —disse o doutor.

—A escolha é sua —disse uma médica.

Mas não era.

Nunca escolheria a morte por sua filha. Era pressionada, entretanto, por aqueles que lhe mostraram, um dia, que havia esperanças. Agora, apontavam a desistência de sua filha, mostravam as reações de seu corpo, provas de que desejava morrer. Jamais seria capaz de um ato tão banal, tão terrível, mas não tinha escolhas. As palavras da médica eram uma mentira macabra, uma falsidade tenebrosa. Não tinha escolhas. Sua filha morreria, mais cedo ou mais tarde, não havia um modo de trazê-la de volta. Acionar aqueles botões adiantaria sua morte, extinguiria a vida artificial que levava. A deixaria livre para escolher, por si só, se desejava a morte ou a vida.

Não havia vida.

—É o melhor que pode fazer —disse um terceiro médico, encostando a mão no ombro da mãe. —É o que ela quer, também.

Talvez fosse. A medicina era avançada, e os estudos mostravam que a filha se recusava a lutar. Parecia entregue à morte, como se apenas aguardasse sua chegada. Esperava na janela pelo esqueleto e pela foice, e então se jogaria em seus braços, implorando pelo fim daquela dor.

—Faça.

Não teria coragem.

—É a melhor escolha.

Impossível.

—Acabe com este sofrimento desnecessário.

Quis morrer no lugar da filha, mas não era capaz. Não servira nem mesmo para se sacrificar, no fim. Era inútil, e pagaria por suas fraquezas vivendo sozinha, perdendo todos aqueles que amava.

—Faça.

Chorou, esperneou, debateu-se, por dentro. Por fora, impassível.

Fez.

***

O mundo ao meu redor ruiu.

O sol desabou, junto das nuvens e do céu, e então as árvores e as flores. O anjo se foi, me deu as costas, me abandonou. Estava sozinha, e tudo escureceu, sem aviso. Senti o corpo gelar, a alma se repartir ao meio. Vi que estava acabando.

—Não!

Levantei-me, corri, aproveitando das pernas que me serviam. Fugi da escuridão, do fim. Queria viver, lutaria por isso. Enfrentei os pesadelos que tentavam me aprisionar, empurrei os obstáculos para longe, fugi do breu. A noite me perseguia, devastando tudo às minhas costas, não me importei. Baixei os olhos, respirei fundo, continuei a correr.

Ao meu lado, vi tudo.

O felino relutava sobre o corpo sem vida de seu companheiro, miava para o céu, choramingava. As filhas gritavam pelas ingenuidades, roubadas pelo tirano que era o padrasto, a mãe fingia não saber por não poder intervir. O filho chorava a morte do pai, em sua frente, um trauma que jamais superaria.

E todos eles desejavam viver.

Eu também.

Caí, o solo abaixo de mim desmoronou, me segurei no branco, fugi do escuro. Subi numa plataforma albina, me atirei para a avenida dos gatos, não havia carro algum. Passei por dentro da casa das garotas, a lareira estava apagada. Saltei por uma janela, caí sobre o sangue do pai assassinado, não havia mais ninguém. Estava sozinha, no fim, e o escuro me cercava.

Estava morrendo, mas queria viver.

—Não!

Mas já era tarde.

Tive minha chance de desejar a vida, não o fiz. Entreguei-me, sem forças para lutar, deixei que a fraqueza me torturasse. Agora, pedia pela vida, mas ela já estava perdida. O mundo oscilava ao meu redor, o meu mundo, o mundo que chamei de perfeito. Fora perfeito, como ousei ordenar, mas fora passageiro. Temporário, pois não lutei quando era hora, não enfrentei os problemas. Passageiro, pois abandonei minhas esperanças, minha vida, e tudo o que tinha.

Tudo ao meu redor escureceu.

Por último, vi minha mãe.

***

Abri os olhos, tudo era turvo.

Lá estava ela. Chorava, entre diversos homens de branco, chorava sobre meu corpo. Vi máquinas apitarem, mostrando a todos a vida que escapava por entre meus dentes. Minha mãe se surpreendeu, saltou sobre mim, me abraçou. Ouso dizer que seu abraço, naquele momento, fora melhor do que o toque de um anjo.

Queria dizer muita coisa. Queria dizer que a amava, que ela era tudo para mim, que ficar bem sem minha presença. Queria pedir que superasse as perdas, que seguisse sua vida, que tivesse forças para continuar, mesmo sozinha. Queria dizer que era linda, que estava linda, que era a melhor mãe do mundo. Queria rezar por sua saúde, por sua glória, por seus dias, por sua vida. A voz me fora tirada, e nada disse. Já era tarde.

Sofri, não por morrer. Sofri por entender que tive a chance, e me entreguei. Dei valor quando tudo já estava perdido, e de nada adiantou.

—Eu te amo, filha! —ela gritava, pude escutar. Por dentro sorri, mas não creio que meus lábios tenham me obedecido. Senti uma lágrima escorrer e, esta sim, sabia que era real.

Eu te amo mãe.

Não disse, mesmo que tenha tentado.

Já era tarde. Aceitei o erro que cometi, levei-o comigo para a inexistência, sem medo.

Sem remorsos.

Até a próxima!