quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Conto - Um Passo da Loucura

One Step To Madness é um conto que foi escrito para o Concurso Rastros de Cthulhu, do site Rede RPG, mas infelizmente não venceu. Não é meu gênero favorito, apesar de vez ou outra recorrer ao terror ou suspense nas histórias. De qualquer forma, aqui está ele, para que possam ler e deixar suas opiniões.
Boa leitura!



Ofegou, o peito dolorido, o corpo falhando em responder. Suor escorria por sua face, os olhos insanos, perdidos num mundo que nunca acreditaria existir. O sangue frio ferveu com a descoberta de verdades que deveriam permanecer escondidas, com a visão monstruosa do absurdo. Vira muito em sua vida, mas nada como aquilo e, agora, preferia morrer a acreditar. Fez então sua escolha.

Escritório Markinstar, 7 de fevereiro, 08hrs 15min.

—Qual o seu problema? —perguntou o detetive.

Eric Markinstar, nada menos que um profissional, e apenas isso. Cabelos castanhos desarrumados, coisa com a qual não se preocupava. Trajes sociais, elegantes, da época, transformavam um simples homem num poderoso investigador, famoso entre as mulheres, de sangue frio e costumes estranhos. Os olhos eram pequenos, simplórios e de grande intimidação, capazes de deduções velozes e perspicazes. Rosto fino, magro, traços herdados da mãe, que morrera doente, anêmica. Personalidade forte, determinada, herança essa do pai, policial das antigas, o qual deixou este mundo enquanto perseguia um grupo de assaltantes de banco.

O escritório de Eric era um lugar simples, nada mais que uma sala pequena, desorganizada, o suficiente para que sentasse e, em silêncio, estudasse o próximo caso. Um ventilador barulhento refrescava o ambiente, lamparinas velhas cuidavam da fraca iluminação, pilhas e pilhas de papéis guardavam os registros de casos antigos, informações úteis e manhas da profissão, que aprendera com o tempo. No centro, um suporte de madeira, onde um chapéu velho e um smoking surrado aguardavam o chamado do dono, e uma mesa de alumínio espaçosa, com documentos e registros espalhados por todos os cantos, um peso de papel em formato de diamante, uma vela para emergências, fósforos e cigarros para o sustento do vício, entre outras tranqueiras.

De um lado da mesa, Eric, sentado, os pés batendo ao chão com impaciência, a caneta nas mãos rodopiando pelo ar, vez ou outra usada para alguma anotação. Do outro, sentada sem tanto conforto, uma mulher, maltratada pela idade e por preocupações, em prantos. O rosto choroso, olhos inchados e lábios ressecados por desidratação, olheiras e sinais de ossos no rosto magro, sem saúde, provas de que algo a abalava por tempos. Falava devagar, com dificuldade, engolindo a tristeza e o medo, a insegurança.

—Ela era uma boa garota —contou a mulher, soluçando. —Nunca me decepcionou, nunca mesmo! —Limpou o rosto, encharcando as bochechas pálidas, as rugas de desespero marcadas na testa. —Não sei explicar o motivo.

—Tinha algum inimigo, alguém que poderia desejar mal à senhora, ou à sua filha? —perguntou, ríspido.

—Não! Nunca me envolvi em confusões nem nada do tipo.

Anotou.

—Quantos anos ela tem?

—Oito anos, faria nove em abril.

—Sua filha não está morta, minha cara. Ela fará nove anos em abril.

—Eles a levaram, levaram minha Belle, coitadinha. —Chorou muito, quase se afogando nas lágrimas de uma depressão incontrolável. —O senhor precisa encontrá-la, pelo amor de Deus!

—Deus não vai me ajudar nessas horas, dona Lespaul —cortou o homem, sem piedade. —Você pode me ajudar.

—Como?

—Onde foi a última vez que a viu?

—Em casa. Ela saiu para buscar um brinquedo na rua, e não voltou.

—Que horas eram?

—Nove e vinte, mais ou menos. Eu avisei a polícia logo que dei por falta, mas eles não conseguiram nada até agora, por isso resolvi contratar alguém especializado.

—Certo, Cindy. Com esses dados, posso começar uma investigação. Vou pedir para que a senhora aguarde em casa, e tome cuidado. Me avise sobre qualquer novidade que conseguir.

Despediram-se, e ela se foi. Sozinho, Eric tomou nota de todas as informações ditas pela senhora. Guardou a ficha consigo, fez uma outra cópia simplória, a qual arquivou na pasta Desaparecimentos, e saiu, não antes de pegar seu smoking, chapéu e cigarros.

Conferiu em suas roupas se a pistola, já gasta, estava pronta para uso. Constatando que sim, partiu, confiante. Afinal, nunca se sabe o que pode acontecer.

Caso - Belle Lespaul

Pedinte: Cindy Lespaul

Grau de Parentesco: Mãe

Data do Desaparecimento: 5 de fevereiro

Envolvimento de polícia: Sim

Idade da vítima: 8

Local vista pela última vez: Casa

Horário: 09hrs 20min

Investigação iniciada: 7 de fevereiro

Investigação concluída: Em breve

Rua da Residência Lespaul, 7 de fevereiro, 08hrs 42min.

Eric era discreto, mas extremamente detalhista.

Cindy era mãe solteira, a falta de uma aliança em sua mão era a prova. Não se incomodava pela aparência, suas roupas não estavam passadas e o perfume era tão velho que sequer cheirava algo. A casa, apenas pela entrada, provava ser desarrumada, tanto quanto o escritório do detetive. Isso não era algo incomum, absurdo, mas eram características de alguém despreocupado, e isso não é algo que se encontre em mães. Exceto naquelas que sofreram algum trauma durante a vida, emocional ou amoroso.

A rua era um lugar movimentado, próxima do centro. Havia comércio, trânsito de veículos, bancos. Difícil que alguém não notasse o sumiço de uma garotinha de oito anos. Uma observação cuidadosa mostrou vizinhos curiosos nas janelas, tentando entender o que Eric fazia parado em frente à casa de Cindy, talvez um preparativo para uma fofoca sobre um possível novo caso da solteirona. Esse fato foi desagradável para Eric, mas, ainda assim, de grande ajuda: vizinhos curiosos nunca deixariam que a filha pequena da mulher saísse sozinha, ou fosse levada por um estranho. Estavam na lista de interrogatórios.

De qualquer modo, o primeiro local a se procurar informações era um bar miúdo, camuflado entre construções do outro lado da rua. Bebidas e desaparecimentos combinavam, Eric sabia. Quantos homens não passavam horas do dia se embriagando naquele local? Quantos deles poderiam ser suspeitos pelo sequestro de uma garotinha de oito anos?

Destino decidido, Eric se preparou para atravessar a rua, mas algo tomou sua visão. Um homem alto, de pele negra e rosto agressivo, queixo fino e olhos assustadores, o observava, imóvel. Notou que Eric o vira, mas não fez questão de disfarçar. Encarou o detetive por algum tempo, o que o distraiu. Assustou-se com um automóvel, escapando por pouco de um acidente. Enquanto escutava ofensas por desatenção, Eric procurou novamente pelo estranho, mas ele já não estava lá.

Elektra Pub, 7 de fevereiro, 08hrs 56min.

Um lugar fedorento, a primeira impressão. Em seguida, quando o cheiro podre de cerveja com vômito cedia aos esforços das narinas de suportar tamanha atrocidade, o visual surgia para afastar os mais espertos. Não seria um local frequentado por crianças, nem por adultos com alguma coisa na cabeça. Mas, do mesmo modo, tinha seus fregueses, alguns mais comprometidos, presentes mesmo àquela hora da manhã, já com seus copos trêmulos de bebida, afogando as mágoas, ou os fígados.

Eric passou, alvo dos olhares de todos, inclusive da proprietária. A mulher não era alguém de família, dona de um negócio de sucesso, pelo contrário: parecia mais alguém presente ao bar, bebendo juntos dos homens, rindo alto, arrotando como tais. Com a entrada do detetive, ela se levantou de sua mesa e caminhou com dificuldade para trás de um balcão rústico de cimento, onde colocou um copo pequeno e uma garrafa de conhaque.

—Conhaque é a sua favorita, estou certa? —perguntou ela.

—Na verdade, prefiro garotinhas de oito anos —zombou Eric. —Sabe algo sobre alguma?

—Gosta de crianças?

—Investigação. Sou o detetive Eric Markinstar, profissional em resolução de casos pessoais, a mando da senhora Cindy Lespaul, moradora dessa rua. O caso é o desaparecimento da filha dela, de oito anos, Belle Lespaul.

—Ah, sim, a pequena Belle! —exclamou a mulher, um pouco assustada com a identificação de Eric. —Fiquei sabendo, sempre existem os murmúrios nas ruas, sabe? Ouvi falar que ela sumiu antes de ontem, mas não a via há muito tempo.

—Mas você a conhecia?

—Sim, ela sempre estava brincando na rua, lavando a calçada com sua mãe.

—E quanto tempo faz que ela não aparecia?

—Umas três semanas. Pensei até que ela estivesse doente.

—Entendo. E como é a sua relação com a senhora Lespaul?

—Comum, de cliente para vendedora.

—Cliente?

—Claro, Cindy sempre aparecia por aqui, comprava alguma coisa para beber.

—Alcoólatra? —Eric tomava nota de algumas coisas em seus papéis amassados.

—Já vi piores, não vou mentir. Mas ela gostava muito, pra aliviar a pressão, sabe como é. Perdeu o marido, mãe solteira, mal sucedida no trabalho e na família. Deve ser difícil sem algo para tirar sua atenção. O senhor vai querer beber?

—Não bebo em serviço, fica para a próxima. —Ela guardou a garrafa de conhaque, mas não sem antes colocar um pouco no copo limpo e beber. —Você já viu a senhora Cindy ficar alcoolizada, a ponto de maltratar a própria filha?

—Ela batia muito em Belle, coitada —contou a vendedora. —Alguns dias, já anoitecendo, ouvíamos gritos de dentro da casa delas, e choro alto. Mas Belle era uma boa garota, forte. Talvez ela saiba que a mãe sofre com vários problemas.

—O que não justifica maltrato. Quando foi a última vez que viu a garota?

—Como disse, umas três semanas atrás. Ela atravessou a rua, falou com alguém e voltou para casa, sorrindo. Depois, não a vi mais.

—Não reparou na pessoa que falou com ela?

—Não, infelizmente. Acha que pode ser algum suspeito?

—Na minha profissão, todos são suspeitos. Inclusive a senhora.

Ela riu, com poucos dentes em bom estado.

Rua da Residência Lespaul, 7 de fevereiro, 09hrs 24min.

O próximo passo seria investigar a vizinhança, mas, antes, Eric parou um pouco para uma segunda observação cuidadosa, um cigarro aceso de auxílio. Não havia mais nenhum outro lugar naquela rua onde poderia adquirir alguma informação válida, de acordo com suas deduções. A aposta da vez era a casa da vizinha fofoqueira, que o observou pela janela quando chegara. Depois disso, aproveitaria a noite para tentar entender alguns hábitos de sua cliente. Alcoolismo não é uma coisa boa para mães, e possíveis agressões poderiam colaborar para que a garota fugisse de casa, se envolvendo com outros problemas.

Sem mais, bateu palmas na casa da vizinha, e esperou até ser atendido.

Era uma mulher negra, de cabelos presos e avental de trabalho, ferramentas de limpeza nas mãos, manchas de produtos nas roupas, provavelmente alguém trabalhando naquela casa.

—Bom dia —disse ele, e a senhora sorriu por obrigação. —Sou o detetive Eric, envolvido no desaparecimento de Belle, filha de Cindy Lespaul, sua vizinha. A senhora é a proprietária da casa?

—Não, não, eu trabalho aqui —respondeu a mulher, sem educação alguma. —A senhora Lucille só volta ao final da tarde, está resolvendo alguns problemas pessoais.

—Certo, eu volto mais tarde, agradeço.

E partiu.

Rua da Residência Lespaul, 7 de fevereiro, 17hrs 20min.

Eric não conseguia deixar um caso de lado quando começava a investigar. Sabia que cada segundo que ele perdia era um segundo a mais que Belle sofreria nas mãos dos sequestradores, e não era uma coisa legal para se pensar. Investigou o bairro, as redondezas, perguntou no comércio, em outras casas, para moradores ou visitantes, e nada. A família Lespaul não era famosa naquele lugar, pois alguns moradores sequer sabiam quem eram as duas. Os que sabiam, sempre citavam as mesmas coisas, como Cindy bebendo, Belle sofrendo maltrato nas noites em sua casa, etc.

Comeu alguma coisa na hora do almoço e voltou a investigar. Tentou reunir pistas, mas até agora não tinha nada concreto. Pensou em visitar Cindy, mas resolveu deixar isso para noite. Era algo comum em sua profissão: antes de resolver um problema do cliente, estudar sua natureza, seus hábitos. Faria isso mais tarde. Enrolou pela tarde e, passando cinco horas, voltou à casa de Lucile.

Bateu, e agora foi atendido por outra mulher. Ela era estranha, sombria. Velha, ainda mais do que Cindy, coberta por vestes de velório, trajes escuros e finos, com pouco mais de um metro e meio, cabelos grisalhos tenebrosos e rosto enrugado pelas décadas de vida. O nariz torto a deixava com aparência das bruxas das histórias, e as unhas cumpridas somadas ao andar vagaroso e macabro aumentavam essa impressão.

—Posso ajudar? —perguntou, e até mesmo sua voz parecia enfeitiçada, uma vó que criança alguma desejaria ter.

—A senhora é Lucille? —perguntou Eric.

—Sou sim. É o detetive, que veio mais cedo, certo?

—Sim.

—Não tenho nada para te ajudar. Vá embora.

E começou a voltar para dentro de casa.

—Espere. Você me viu chegar hoje de manhã, não viu.

—Sim.

—Pensei que pudesse ter visto Belle uma última vez, talvez até mesmo depois de Cindy.

—É, mas pensou errado. A garota sumiu, e ninguém sabe nada sobre isso. Se quiser mais detalhes, pergunte à própria Cindy. Quem melhor para te dar informações do que a própria mãe?

—Ela já me disse tudo o que sabia.

—Engano seu. Cindy nunca diz tudo o que sabe.

Um comentário peculiar, mas Eric ignorou.

—Não viu nada de diferente pelo bairro nos últimos dias?

—Só você, detetive —retrucou ela. —As coisas aqui não costumam mudar. Somos sorteados, mas podemos ter azar de vez em quando.

Não entendeu.

—Comece procurando por ela, detetive —disse Lucille, antes que Eric pudesse perguntar novamente. —Investigue a mãe, e vai encontrar as respostas que precisa. Eu realmente não posso te ajudar agora, mesmo que quisesse. Sinto pena da garota, mas é só o que posso fazer no momento. Passar bem.

E foi embora.

Rua da Residência Lespaul, 7 de fevereiro, 22hrs 38min.

Enquanto comia algo na rua, em frente à casa de sua cliente, Eric bambeou no lugar, sonolento graças ao silêncio e à falta de pistas. Enquanto esperava a chegada da noite, sentado num canto de penumbra, do outro lado da rua, cochilou, o rosto encostado na parede de cimento. Sonhou, e viu um morcego miúdo que saiu da terra, cavando como um cachorro. Ele levantou voo, arqueou no ar, e então explodiu em tentáculos disformes banhados por sangue. Depois disso, Eric acordou, assustado.

Já eram bem mais de dez horas da noite, e nada. Pensou em voltar para o escritório, descansar para outro dia de trabalho, mas foi surpreendido quando três pessoas surgiram na rua, virando da esquina mais próxima. Todas se vestiam de preto, com chapéus e luvas, acessórios desnecessários para o tempo atual. Entre o trio, havia uma mulher, que caminhava com elegância sobre um sapato fino, de saia longa. Os homens eram de porte grande, um a cada lado, como se a escoltassem. Bateram na casa de Lucille, e ela os recebeu, com educação. Antes de entrarem, Eric teve a impressão de que a velha o apontou para os três, mas era impossível vê-lo naquele lugar, então nada fez.

A segunda surpresa da noite veio logo a seguir.

Escondido nas sombras, tinha uma visão privilegiada de tudo o que acontecia. De lá, viu quando um homem alto surgiu, caminhando com passos duros, como se desacostumado àquelas pernas. Bateu na porta de Cindy, e ela o atendeu de prontidão, o rosto sonolento, mas as roupas novas, arrumada para sair. Falou alguma coisa com ele, e pareceu se assustar com a resposta. Ela disse algo, mas o homem não a escutou, e se virou para trás. Nesse momento, Eric reparou que era o mesmo homem que vira mais cedo, negro e alto, e seu rosto, mesmo no escuro da noite, ainda trazia a mesma agressividade de sempre. Ele disse mais alguma coisa para Cindy, que chorou no lugar, e depois foi embora.

Eric pensou em seguir o estranho, mas Cindy logo saiu de sua casa e trancou a porta, seguindo por outro caminho. Esperou até que ela ganhasse distância e a seguiu, furtivo.

Cemitério Angellus, 7 de fevereiro, 23hrs 15min.

Acreditou que chegaria a qualquer lugar, menos ao cemitério.

Enquanto seguia sua cliente, que cada vez mais se tornava motivo de curiosidade por parte do detetive, percebera que ela estava tonta, talvez um pouco bêbada. Se estivesse fora de si, tudo bem, mas onze da noite não é um horário comum para se visitar um cemitério. De qualquer modo, ela olhou para os lados, insegura, e só então entrou. Não notara o detetive, que a seguiu de perto.

O cheiro fétido incomodou Eric, cheiro de tumba, de terra molhada, de morte. Túmulos e mais túmulos espalhados por um solo irregular e acidentado, pedras soltas e mausoléus em decoração daquele local tenebroso, silencioso, exceto pelos passos nada calmos de Cindy. Eric se escondeu na penumbra e manteve sua cliente no campo de visão, mesmo que desfavorecido pela escuridão. Andava confusa, sempre olhando para os lados, temerosa.

Parou em frente a um túmulo, pouco diferente dos demais. Verificou novamente se estava sendo seguida e, sem notar a presença do homem nas sombras, agachou-se e mexeu em algo na pedra. Para surpresa do detetive, uma passagem se abriu atrás do túmulo, algo simples, mas bem escondido na paisagem. Cindy desceu, e a passagem então se fechou.

Eric correu até o tumulo e estudou a peça. Era uma rocha simples, com as seguintes palavras: Aqui jaz Cthulhu. Abaixo das três palavras sem sentido para o detetive, uma figura macabra de um monstro disforme com centenas de tentáculos e asas assombrava a tumba, e seus olhos eram pedras diferenciadas, tanto na cor quanto nas texturas. Eric os observou por algum tempo, e se sentiu incomodado, perturbado. A imagem era simples, antiga, mas um tormento sem igual. Piscou forte, procurando esquecer a visão, e só então abriu a passagem, da mesma maneira que Cindy fizera.

Encontrou abaixo do solo uma escadaria apertada, de degraus miúdos e oscilantes, espiralados. Desceu com cuidado, usando os braços para garantir o que o corpo masculino dificultava. Um a um, os degraus o guiavam para a escuridão, para o desconhecido, e o silêncio reinava em absoluto, deixando a respiração e os batimentos cardíacos como música no ambiente. Ofegante, chegou ao último degrau e sentiu o solo firme, enfim, nas sombras de um corredor obscuro.

Ao longe, avistou uma pequena fonte de iluminação, provavelmente candelabros. Guiou-se até ele, apoiando-se nas paredes rústicas para evitar quedas. Passou por uma porta entreaberta, próxima das velas, e encontrou um segundo corredor, dessa vez iluminado por inúmeras tochas de aparência medieval, com chamas vibrantes e suportes em ouro. Cauteloso, encostou a porta atrás de si, evitando suspeitas, e então estudou minuciosamente a nova localidade.

Sombrio, o melhor adjetivo que encontrou para aquele corredor. Era longo, de teto alto, com inúmeras portas espalhadas pelas paredes, talhadas em mármore com figuras macabras. As paredes tinham um vermelho vivo, e desenhos, várias imagens pintadas com traços infantis, tortuosos. Eric caminhou devagar, observando cada uma das imagens e tentando entender seus significados. A primeira eram duas torres imensas, cinzentas, nuvens de fogo e fumaça no centro, como se estivessem sendo destruídas por explosões; ao lado, uma onda gigante descarregava a fúria dos mares contra uma cidade populosa, trazendo a desgraça e a morte; mais à frente, dois homens lutavam insanos por dinheiro, ambição estampada em seus olhares, sangue jorrando de seus corpos; a quarta imagem era o sol, bem próximo da Terra, o globo ardendo em chamas; por ultimo, uma criatura monstruosa se erguia dos oceanos, trazendo consigo o caos e a desordem, asas imensas e tentáculos do tamanho de torres, golpeando os mares e abalando tudo ao seu redor, a boca imensa aberta, como se pretendesse devorar o mundo em que pisava.

Atordoado pelas cenas estranhas que encontrou, Eric já não se sentia tão bem. Esquecera um pouco do motivo de estar naquele local, até mesmo de Cindy e Belle. Curiosidade cresceu por dentro de sua mente, juntamente de um medo inevitável do desconhecido, mas ele precisava ir mais fundo. O que Cindy fazia num lugar como aquele? O que eram aquelas imagens? O que estava acontecendo ali?

Movido por impulso, o detetive, já não tão frio quanto de costume, seguiu pelo corredor, passando por todas as imagens e estudando-as novamente, devagar, e pareciam cada vez mais perturbadoras, criadas para confundir e amedrontar as mentes mais fracas. Seguiu, passando pelas tochas, e se deparou com uma porta de cimento, talhada com cabeças de gárgulas de olhos finos e presas pontiagudas. Tocou a maçaneta com delicadeza, temeroso, e usou da força para empurrar a porta pesada.

A escuridão novamente tomou conta do local. Passada a porta, a mesma se fechou atrás do detetive, que se assustou com o barulho. No escuro, uma brisa suave incomodou a pele de Eric, arrepiando-o, um tremor suave subindo por seu corpo. Respirou com dificuldade, esperando por algo que talvez não viesse, procurando uma fonte de iluminação qualquer para sanar seu medo do desconhecido. Como detetive, gostava de ter tudo na sua linha de visão, e nunca ser surpreendido. Como homem, preferia fechar os olhos para muitas coisas, e a escuridão seria sua amiga, não fosse a fobia que demorou a se livrar. Naquele momento, preferia estar longe dali, mas o dever e a vontade de se perder nos mistérios o forçavam a continuar.

Usou de passos cuidadosos e lentos para se movimentar, um ranger tenebroso provava o solo de madeira, uma fina camada de pano entre as tábuas frias do chão e os pés hesitantes de Eric. Seguiu, as mãos estendidas á frente, procurando um caminho, uma salvação, uma luz no fim do túnel, e nada. De súbito, sentiu um tecido entre os dedos, um pano macio e frio que tremulava com um vento gélido e um cheiro de água salgada, de mar. Pensamentos se confundiram na mente do detetive: vento e cheiro de praia, no subterrâneo?

Arriscou um passo a mais, e suas mãos empurraram algo sólido, e então pode ver uma luz distante, ao fim de um oceano escuro e oscilante, o vento forte criando ondas enormes de um lado para o outro, as rochas imensas se esforçando para manterem-se fixas após cada pancada de água salgada. Abrira uma janela impossível de se acreditar, inexistente. Uma janela no subterrâneo, que lhe mostrara uma visão de torre. Algo estava muito errado.

Recuou trêmulo, e tropeçou nos próprios pés, caindo sentado na madeira, que fraquejou. Ouviu então um estalido, seguido de um ranger alto, e o solo tremeu. Eric não teve reação, ficou imóvel. Mesmo cego devido à escuridão, sabia que sua expressão era de pânico, seus olhos não eram tão frios quanto sempre foram. Nunca mais seriam.

Outro estalo, dessa vez mais grave. Uma sombra passou ao lado do detetive, e o susto o fez se exaltar, a madeira novamente oscilando. Parou, segurou o ar, evitou qualquer movimento. Outra sombra, dessa vez mais próxima, e um assovio ecoando pelo ar. Os braços tremiam, o medo corria em veias junto ao sangue, as sombras correndo rápidas ao seu redor. Fechou os olhos, mas sentia os movimentos, sentia o pavor de não estar sozinho. Grudou os lábios, com vontade de gritar, o sangue gelando. De súbito, sentiu um toque nas costas, e o grito de pânico escapou. Levantou-se veloz, mas o chão não suportou e cedeu, deixando o detetive cair no breu.

A queda brusca acabou com todas as chances de reação de Eric, que se chocou contra uma pequena cômoda de madeira, a qual se partiu de imediato. Girou no lugar e se levantou veloz, estudando o lugar onde estava: parecia um quarto, um lugar para se descansar. Paredes vermelhas e mal pintadas, tapetes surrados pelo chão e uma cama de estrado podre, com um colchão devorado por bichos. Eric procurou, mas não havia uma porta de saída, janela ou coisa parecida. Sentiu-se preso, e bateu contra uma das paredes, bruto, mas em vão. Em resposta, escutava apenas uma canção, de ritmo assustador e palavras desconhecidas, cantada por várias vozes unidas.

Socou novamente a parede, e chutou-a, procurando alguma brecha. Num golpe de sorte, escutou um ruído diferente, de parede oca. Bateu com força, e viu o disfarce rasgar. Recuou alguns passos e, sem hesitar, movido pelo poder da loucura, se atirou contra o bloqueio, rolando pelo chão com os ombros doloridos e um ferimento novo na pele.

Já confuso e sem rumo, Eric se pôs de pé, e era o centro das atenções do local. Diferente da solidão de pouco tempo atrás, aquela câmara estava repleta de pessoas, uma mais peculiar que a outra. Lá estava Cindy, a face endoidecida, um sorriso maléfico no rosto, uma expressão de horror no olhar. Ao seu lado, uma pequena garota, muito parecida com ela, que dançava pouco entendendo o que se passava no local. Mais próximo às duas estavam dois homens, gêmeos, de rostos idênticos e deformados. Uma garota loira com um olho a menos não tirava o detetive da vista, ao mesmo tempo em que uma velha de bengala e vestido longo parecia querer devorá-lo. Outros três homens de pele negra vestiam roupas claras, junto de duas mulheres ruivas, e um adolescente com cabelos longos e roupas escuras. Era um grupo de pessoas estranhas, num ato ainda mais estranho. Porém, alguma coisa chamou mais a atenção de Eric.

Mais distante, próximo a um altar, estava um homem, ou algo humanoide, sentado em um trono de pedras. Braços fortes, negros, asas de morcego dormentes por sobre suas costas, olhos amarelos e gigantes. O pouco que restara de sua face era familiar a Eric, que não soube dizer o porquê, mas o restante era apenas uma massa disforme banhada em sangue, que ainda escorria por feridas imensas por onde tentáculos grotescos deslizavam freneticamente, oscilando com movimentos bruscos e força anormal.

O olhar da criatura era uma loucura, e Eric não sabia como descrever, ninguém saberia. A simples visão daquele ser, daquele monstro obscuro e onipotente fez o detetive sentir vontade vomitar seus órgãos, cuspir seu próprio sangue e depois engolir tudo novamente. Era uma sensação tenebrosa, que fez os joelhos de Eric falharem e o derrubarem ao chão, seu corpo perder o controle e acelerar, urinar nas calças e chorar como uma garotinha que perdeu o doce. Tossiu de pavor, e tossiu sangue, mas até seu sangue escorreu fraco e sem cor, também temendo a simples existência daquilo, que era completamente indescritível.

—Esse é o homem —disse Cindy, apontando com o braço frágil, trêmulo, a voz de choro. —Ele é o sacrifício! Poupem minha pobre Belle!

—Tudo para Nyarlathotep! —bradou um dos negros, parecendo impaciente.

—O sacrifício deve ser feito, independente da oferenda —disse uma das ruivas.

— Nyarlathotep! Nyarlathotep! —urravam os demais, num coro insano para um deus-monstro.

—Sacrifício? —perguntou Eric. —Esse era seu plano, não era?

—Eu não tive escolha! —choramingou a mulher. —Era entre você e minha filha, minha amada Belle! —Abraçou a criança, que aparentava medo. —Não podia deixar que ela fosse morta.

—Então ela contratou um idiota com uma falsa história e os trouxe para nós —disse a velha de bengala, a voz lenta e gasta. —E, sendo você o sacrifício, a filha dela será poupada.

—Eu não vou ser o sacrifício para nenhum monstro! —bradou Eric. Usando das poucas forças que ainda tinha, levantou-se, as calças molhadas, pernas trêmulas, os braços hesitantes. Apoiou-se na parede mais próxima, puxou o revólver da cintura e apontou para a criatura. —É você quem será o jantar hoje.

O monstro sorriu, ou ao menos foi o que Eric assimilou daquela expressão tenebrosa e horripilante. Atirou uma, duas, sete vezes contra o rosto disforme daquele ser, que se despedaçou em carne e sangue verde e viscoso. Artérias esguichavam pelos buracos no pescoço, a língua dependurada no que restara do maxilar, os olhos caídos escorrendo junto do sangue pelo rosto.

—Morra, cria do inferno! —disse o detetive. Apertou o gatilho outras tantas vezes, sem noção de que suas munições já haviam se esgotado há tempos.

—Eu não posso morrer, mortal —falou o monstro e, quando falou, mesmo sem boca ou sem face, todos caíram de joelhos, inclusive o próprio detetive. A força na voz daquela criatura era a de um deus, maior do que qualquer coisa que Eric já sentira na vida. Deixou a pistola escorrer por seus dedos, viu suas unhas caírem uma a uma, seus braços formigarem e seus poros do corpo todo despejarem gotas de sangue.

—Honra a Nyarlathotep, o Caos Rastejante! —bradaram os cultistas, com exceção de Cindy e Belle, que choravam incontroladas.

—Aquela que não mais me honra deve ser punida —disse o monstro, e sua face se reconstruía enquanto falava, sangue retornando ao seu lugar, língua e olhos recolhendo-se abaixo da pele, que se formava por completo novamente. Apontou para Cindy e Belle. —Não deixaria que uma ovelha ficasse sem sua cria. Quero o sangue de ambas, para que não sintam falta ou fraqueza.

Cindy gritou, Belle chorou mais alto, mas não havia escapatória. Segundos foram o suficiente para que todos os demais cultistas se jogassem contra mãe e filha, e usassem das mãos e dos dentes para destruírem os corpos das duas. Eric assistiu tudo aquilo, viu os últimos suspiros e gritos de dor e pânico de sua cliente e da garotinha, viu o sangue jorrar e os órgãos atirados ao chão, a pele arrancada como adesivo, os cérebros mastigado por todos. Chorou, sem motivo, sem razão, sem sanidade alguma. Vomitou no lugar, enquanto tentava se levantar, apoiado nas paredes. Notou então que havia uma porta, e aquela seria sua saída, sua rota de fuga.

Jogou o corpo contra ela, sentiu o braço quebrar em dois lugares. Caiu fora do salão, e se viu livre. Correu.

Nyarlathotep apenas ergueu uma das mãos quando vários dos cultistas pensaram em correr atrás de Eric.

—Deixem que vá —disse o monstro. —Ele tem apenas duas escolhas. Sua vida acabou.

Eric correu o máximo que pode, subindo escadarias e passando por portas e mais portas sem sequer perceber aonde ia. Correu e, quando percebeu, já estava respirando o cheiro de morte do cemitério novamente. Tropeçou em vários túmulos, arranhou as bochechas nas pedras do solo quando caiu, sentiu pontadas no braço quebrado. Então largou seu corpo, abriu as pernas e deitou-se, olhos fixados no céu escuro da madrugada, na lua e nas estrelas.

Gargalhou. Aquilo tudo era um sonho, um sonho, só isso. Não podia ser verdade.

Gargalhou, insano. Temeu as sombras, e imaginou estar sendo perseguido. Levantou-se, correu para fora do cemitério. Esbarrou em um poste e praguejou, quebrou a vidraça de uma loja com os pés, vomitou sangue novamente. Correu, sem destino, e agora chegara a seu escritório. Quebrou a porta de entrada, derrubou tudo o que havia sobre a mesa, empurrou o que podia contra a entrada para se sentir seguro. Gargalhou, novamente, o cérebro agora apenas de enfeite em seu corpo. Deitou-se no chão, rasgou a cortina das janelas para se cobrir, fez de seus arquivos mais importantes o encosto para seu pescoço.

Ofegou, o peito dolorido, o corpo falhando em responder. Suor escorria por sua face, os olhos insanos, perdidos num mundo que nunca acreditaria existir. O sangue frio ferveu com a descoberta de verdades que deveriam permanecer escondidas, com a visão monstruosa do absurdo. Vira muito em sua vida, mas nada como aquilo e, agora, preferia morrer a acreditar. Fez então sua escolha.

—Eu só preciso descansar —disse ele. —Só preciso descansar, e esquecer. Isso tudo foi um sonho, um sonho. É tudo minha imaginação. Isso não existe, ele não existe, eu não existo. Durma, durma, durma, merda! —Sorriu. —Eu vou esquecer, eu vou esquecer. Eu quero... Eu quero morrer...

Não fechou os olhos, pois não podia. Ali ficou, por horas, por dias, e apodreceu insano, sem que mais ninguém ouvisse falar em seu nome.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Antologias e Concursos

Olá, leitor!
Se você é como eu, e também gosta de escrever para os concursos e antologias das mais diversas editoras, aqui está o seu post! É difícil encontrar os sites com as devidas regras, pior ainda se ficar procurando, um a um. Sempre tive dificuldade com isso, hehe. Para facilitar, postarei aqui todas as antologias e concursos abertos no momento (que eu sei, claro), e podem ter certeza que estarei inscrito em todas elas! Cada oportunidade em nosso país é válida, não podemos perder nada! :)
Segue abaixo as antologias e os concursos mais recentes:

Editora Estronho

- Brinquedos... eles matam! até 1 de janeiro de 2012.
- Sexo, Livros e Rock & Roll até 1 de dezembro de 2011.

Editora Andross

- Entrelinhas - Volume 2 até 30 de março de 2012.
- Moedas para o Barqueiro - Volume 3 até 30 de março de 2012.
- Histórias Envenenadas - Volume 2 até 30 de março de 2012.
- Ponto Reverso até 30 de março de 2012.

Editora Draco

- Erótica Phantástica até 31 de dezembro de 2011.

Site Rede RPG

- Concurso- Vampiros: Manual de Conversão até 15 de outubro de 2011.

Revista Fantástica

- 1º Concurso Cultural de LitFan da Revista Fantástica até 25 de outubro de 2011.

Fiquem atentos aos devidos regulamentos das antologias, e não percam a chance de participar de cada uma delas, se é de interesse ganhar espaço no mercado editorial. Afinal de contas, cada trabalho ou participação conta na bagagem literária, no fim, e pode ser um ponto ao seu favor durante uma disputa, mais tarde. Participem de todas elas se puderem! Estarei lá, com certeza!

Resenha - Crônicas de Tormenta

Como prometido no twitter, faria uma resenha sobre o livro Crônicas de Tormenta logo após terminar de ler, e cá estou! Encerrei agora mesmo a leitura de O Cerco, último conto do livro, e minha impressão final foi: por que não pensaram em algo assim antes?

Crônicas de Tormenta é um excelente livro, obviamente, como 99% daquilo que a Jambô publica. Todos, e falo sem hesitar, TODOS os contos carregam alguma coisa de especial, seja uma mensagem, uma cena ou mesmo o próprio plot, mesmo que existam histórias que impressionem mais do que outras. Em suas 288 páginas, a antologia nos apresenta 14 contos, sendo alguns deles retirados das antigas revistas Tormenta, Dragão Brasil, etc.

Nosso grupo de aventureiros é composto por Marcelo Cassaro, JM Trevisan e Rogerio Saladino (os três responsáveis pelo alarde que foi o cenário de Arton desde os primórdios), Leonel Caldela (Tolkien BR, autor da trilogia Tormenta, simplesmente imperdível), Douglas MCT (autor de Necrópolis, com seus temas mais dark), Leandro Reis/Radrak (autor da Trilogia Goldshine e pai da bela feiticeira Iallanara), Raphael Draccon (eterno bajulado pela ótima trilogia Dragões de Éter), Remo Disconzi (possuidor de um excelente vocabulário para quem trabalha de ilustrador), Ana Cristina Rodrigues (coordenadora do selo de Literatura Fantástica Llyr Editorial), Antonio Augusto Shaftiel (conhecido por diversos romances publicados na antiga Editora Daemon), Cláudio Villa (um dos criadores dos Mundos de Mirr) e Marlon Teske (um dos criadores de Meliny, cenário medieval de RPG).

Com um time desses, alguém ainda duvida da qualidade do material apresentado?
Poderia falar de cada conto individualmente, mas diversos outros blogs já o fizeram, então falemos do livro como um todo. De início, somos agraciados com a escrita fabulosa de Leonel Caldela, dono de dois dos contos da coletânea. Seus heróis, como sempre, carregados de uma "realidade fantasiosa" absurdamente rica, com descrições maravilhosas e um palavreado sem igual. Eram contos que, antes mesmo de ler, sabia que gostaria, e só comprovei quando terminei a leitura.
Muitos outros passaram pela mesma situação: Revés, de Douglas MCT, me chamou a atenção por ser uma pausa na antologia. Após uma série de ação e aventura, pausa para um suspense básico, com uma escrita misteriosa e propositalmente confusa, que nos deixa voando junto de sua personagem, sem entender. O final força o leitor a refletir, e só então compreender que as lacunas do texto não são falhas, e sim espaços para pensamentos.
Confesso que esperava mais do texto de Raphael Draccon, enfim. A história de seu conto é ótima, uma aventura recomendada principalmente aos mestres de RPG, mas é uma leitura um pouco massante, cansativa. É um ótimo conto, mas sofreu bastante na passagem da ideia ao papel. Ainda assim, nos mostra bastante da criatividade do autor, consagrado pela trilogia épica.
Leandro Reis nos mostra um ladino interessante, contador de histórias, em termos. A surpresa do final não foi tão surpresa, mas o desenrolar prende o leitor e a narração é muito boa, agradável de se ler.
Remo Disconzi também fez o milagre de conseguir espaço para dois contos no livro, e nos humilha com um palavreado ímpar, incomparável. São os contos mais ricos em vocabulário dentre todos da antologia, certamente, e nos mostram histórias atraentes e impressionantes. A desvantagem fica inclusa em seu vocabulário, que pode afastar muitos dos leitores menos conhecedores desse tipo de palavras, ou mesmo preguiçosos que fogem de dicionários.
Ana Cristina Rodrigues me surpreendeu, sério. Não me leve a mal, mas juro que li o conto pensando se tratar de um romance bobo, como Crepúsculo. Me maravilhei com as descrições, a história ganhando profundidade a cada palavra, e o fim garante um baque, deixando o leitor incrédulo e até mesmo incomodado com a situação. Aquilo que parecia romancinho de garotinha se transformou numa história linda de se narrar, e com certeza é um dos melhores contos do livro.
É desnecessário comentar sobre o Trio Tormenta, claro. Todos os três contos dos criadores são magníficos, em especial O Cerco, de JM Trevisan, que trabalha com os personagens de uma maneira especial. A aparição de Abdullah no conto do Saladino me encheu de nostalgia, lembrando-me das revistas Só Aventuras, da época antepassada da Dragão Brasil. Cassaro nos conta outra vez a história do Dragão-de-Aço, um clássico que nunca será cansativo de se ler.
E, por fim, temos Marlon Teske. Dentre todos os autores, sou fã extremo de Leonel Caldela, sério, seus livros são os melhores que vi na vida toda! Quando comprei Crônicas de Tormenta, sabia que me impressionaria com seus contos, e estava certo. Apenas uma história me impressionou mais do que os contos do Leonel.
Ária Noturna nos retrata os piratas de Tormenta. Piratas garantem excelentes histórias, fato, mas Marlon nos provou que uma escrita fabulosa e bucaneiros destemidos, somados a um cenário idolatrado e uma cultura até então inexplorada, podem garantir uma história épica e incrível. Abusou de todos os conhecimentos de Arton para nos levar até os mares desconhecidos, e cada parte de seu conto é magnífica, inclusive o desfecho, que arrepia.

Crônicas de Tormenta garante boas horas de uma leitura de altíssimo nível, com histórias para todos os gostos. Tem seus pontos baixos, como pouquíssimas falhas de revisão, mas a qualidade do livro é absurda, marca registrada da Editora Jambô, e, sinceridade, já estou esperando pelo segundo (e inclusive já perturbei o Trevisan no twitter, hehe). Tormenta tem muito o que contar, seja na mão dos mestres, seja na dos iniciantes, famintos por um cenário rico e atraente. Parabenizo à editora pela publicação, ao organizador e aos autores pelo excelente trabalho, e ao nosso público de rpgistas, que é o grande responsável pelo espaço aberto no país para essa nerdice toda. E, àqueles que ainda não leram a antologia: leiam! Mesmo que precisem sacrificar as almas para Tenebra depois disso!
E que venha o segundo volume!

Draconia - Os Olhos de Myrroziel

Olá, leitor!
É com prazer que lhe indico uma obra hoje recém-publicada, chamada Draconia - Os Olhos de Myrroziel! Draconia é o primeiro livro completamente ambientado em Elhanor, mais precisamente na Terra dos Dragões, mostrando-nos a verdade sobre o desaparecimento da raça hoje considerada extinta. Em suas 304 páginas, Draconia nos leva até a vida de Rizel, um ferreiro com sérios problemas de memória, que parte em uma jornada de aventuras e perigos para salvar, ou destruir, uma raça toda.



Veja abaixo a sinopse:

O Deus-Dragão caiu durante a Guerra dos Mitos e, com isso, todos os dragões desapareceram e a raça chegou a ser dada como extinta, restando apenas livros e histórias antigas sobre essas criaturas fantásticas. O que o mundo de Elhanor não sabe é que os dragões ainda existem, e muito bem vivos por sinal.
Num continente há muito esquecido, uma aventura imensa está para começar. É em Draconia que se encontram os dragões e sua magia grandiosa. Mas o Reinado dos Seis está em crise, problemas que a raça jamais imaginou vivenciar. Estavam acomodados naquele lugar, com seus problemas internos, mas longe do conhecimento do povo de Elhanor. Mas até quando isso ainda ia durar?
Pouco, graças à chegada inesperada de um visitante especial, e à Reunião das Cadeiras organizada por Arkhomnagus, o Dragão de Ouro, líder do Conselho de Draconia há tempos. Decisões agora são mais importantes que qualquer coisa, pois podem levar a outra guerra ou coisa pior. Quem é aquele homem? Por que ele é tão importante?
Só o tempo irá dizer...

Draconia é um livro no formato A5 (14,8x21), impresso no papel Pólen Soft, e vendido diretamente no site da editora. Àqueles que desejarem uma edição, podem encontrar o livro mais precisamente AQUI!

A imagem da capa foi feita por Pedro Barbosa de Souza Filho, que pode ser encontrado neste deviantart: http://pedrodfw.deviantart.com/ ; o Logo e a edição de imagem é de autoria de Thais Soares de Oliveira.

Não deixem de conferir a história de Rizel e Elazul pelos incríveis Reinos dos Dragões, numa trama de traições, mistérios, guerras e deuses! Boa leitura!

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Conto - Uma Noite Sufocante

Postando hoje o conto vencedor do Concurso Nacional de Roteiro do Anime Dreams 2008, Uma Noite Sufocante. Não foi revisado desde sua época, portanto perdoem possíveis erros! :)
Espero que gostem!




Dia 26 de janeiro de 2008. Era uma noite quente, desesperadora, ainda mais para Nana. Nana era uma garota delicada, de longos cabelos loiros e olhos incrivelmente azulados. Sempre calma e risonha, escondia uma paixão incontrolável pelo universo otaku, não apoiada pelos pais. Adorava animes e mangás, adorava as roupas que eles usavam, tudo da cultura japonesa. Brincava de técnicas no seu quarto (Meteoro de Pégasus!), corria com os braços para trás como ninjas, até mesmo já tinha tentado voar (o que lhe custara 1 dente). Só havia uma única coisa que ela ainda não havia feito, e era justamente o que ela mais queria: visitar um evento de anime. E era justamente isso que ela faria na manhã seguinte.

Caminhava veloz para a casa. Tinha acabado de sair do seu cansativo curso de informática, que era usado mais para assistir episódios novos de animes do que aprender programação. Carregava consigo sua bolsa rosada e chamativa, e sobre ela seu boneco favorito, um macaco de fraudas e asas de morcego, carinhosamente apelidado de Snoof. Ele estava com ela todo tempo, sendo considerado seu principal companheiro, seu “pet”, seu pokémon, ou como quer que chamem nos dias atuais.

Em uma das inúmeras ruas da sua cidade, ela corria como uma profissional de atletismo. Segurava sua bolsa para não derrubar nenhuma moeda do suado dinheiro que ela havia reunido para levar ao evento. Já imaginava tudo o que desejava comprar. E infelizmente seu dinheiro não daria para tudo isso, mas ela seria feliz da mesma maneira. Afinal, estaria em um evento de anime. Veria pessoas de cosplay, as famosas fantasias dos personagens favoritos. Faria seu próprio cosplay, uma personagem que ela mesma desenhou em um dos seus inúmeros fanzines, denominada Misty. Era uma roupa meio estranha para as pessoas comuns, mas ela não era mesmo uma pessoa comum. Estava guardada em sua casa, debaixo de todas as cobertas, em um lugar onde cão nenhum encontraria (nem mesmo seu irmão), onde ninguém poderia bagunçar. Estava protegia com sua própria vida.

O pobre Snoof balançava freneticamente no ar, chocando-se diversas vezes contra as costas de Nana, que parecia nem mesmo sentir o boneco. A garota suava por causa do calor, mas isso não a incomodava. O evento estava a apenas algumas horas dela. Nada poderia a incomodar naquele dia.

Quando Nana chegou ao ponto de ônibus, já havia perdido sua condução. Teria de esperar pela próxima, que demoraria cerca de 30 minutos. Como não tinha escolha, abriu seu exemplar raro do mangá “Eyeshield 21” e começou a ler. Era a 134ª vez que ela leria aquela história, mas não conseguia enjoar. É claro, se pudesse comprar mais mangás, seria muito melhor. Mas isso era algo que ela pensaria no dia seguinte.

Viajou sentada pelos campos de um jogo de futebol americano. Parecia que era ela que estava correndo a todo vapor de um cão raivoso.

Espere um pouco... Era ela!

Nana olhou para trás e viu um cão furioso correr em sua direção. “Deve ser apenas um sonho”, disse ela, “basta eu me beliscar e...” Mas quando ela tentou beliscar seu rosto macio, sentiu algo resistente pela frente. Era um capacete de proteção vermelho, como o dos jogadores do time. Só então percebeu a viseira verde em frente aos seus olhos. Não era um sonho? Ela estaria mesmo dentro do universo de um mangá?

—Ei, o que você está fazendo? —disse uma voz estranha que parecia desesperada. —Você tem que correr, aquele cão raivoso vai nos alcançar em pouco tempo.

—Quem é você? —perguntou Nana.

—Não temos tempo, —disse a voz —você tem que correr!

Nana juntou toda sua força nas pernas e correu o máximo que conseguiu. Durante a corrida, olhava para trás tentando encontrar o dono da estranha voz que a avisara, mas via apenas um cachorro furioso pronto para morder sua batata da perna quando a alcançasse.

—Por que está olhando para trás? —perguntou a voz. —Preocupe-se apenas em correr!

—Quem é você? —perguntou novamente a garota, sem diminuir o passo.

—Quanta consideração! Primeiro me dá um nome, depois diz que me ama, depois nem mesmo sabe quem eu sou!

—Snoof? É você?

—Quem mais poderia ser?

O estranho macaco de fraudas balançou suas asas “vampirescas” no ar e parou em frente à viseira verde de Nana. Agora não era mais um boneco. Era uma criatura viva, um macaco voador que usava fraudas! O que as pessoas pensariam disso?

—Como você pode falar? Você era apenas um boneco?

—E você era apenas uma estudante de informática e agora está dentro do universo de um mangá! O que acha que é mais improvável?

—Não faça perguntas difíceis!

Nana fez uma curva fechada e o cão não conseguiu acompanha-la, chocando de frente com uma parede. Mesmo assim, a garota continuou correndo até chegar em um campo de futebol americano.

—Será que já o despistamos?—perguntou ao macaco enquanto olhava para trás para se assegurar de que o cachorro não a perseguia mais.

—Talvez o cão sim, mas olhe para frente! —berrou o macaco voador, mas já era tarde. Uma bola de futebol americano bateu em cheio no rosto de Nana, que caiu no chão.

—Depois vocês ainda dizem que os seres humanos vieram dos macacos... —resmungou Snoof arrumando seu chapéu vermelho, que lembrava e muito aquele chapéu de festas de aniversário. —Está bem minha senhora?

—Acho que sim —disse Nana, abrindo os olhos vagarosamente e tentando acalmar sua tontura. Quando tentou limpar sua roupa de futebol americano, viu que não a tinha mais. Seu traje agora era mais leve, como se viajasse em alto mar. E era realmente estranho, era como se ela pudesse sentir o cheiro da água oceânica no ar. Era como se ela pudesse sentir o balanço do navio navegando pelos sete mares.

Navio?!?!?!

Quando Nana se recobrou da tontura, viu que estava em um navio em pleno oceano. Snoof flutuava ao lado de sua cabeça, com uma expressão de “isso que dá beber demais...”. Olhou para os lados para tentar reconhecer o local, o que não demorou muito a ser feito. A bandeira negra com um esqueleto usando chapéu de palha não deixava dúvidas: estava no Going Merry, o famoso navio de One Piece.

—Hei, Ruffy, —disse uma voz feminina vinda de uma sala fechada no centro do navio —será que você pode parar de comer um pouco e voltar a comandar o navio?

—Ah Nami, não enche —disse uma voz ainda mais estranha do que a de seu macaco-boneco-com-asas-de-morcego. —Já faz quase dez minutos que eu almocei, me deixe manter minha dieta saudável!

—Saudável... Sei...

A mulher abriu a porta da pequena sala e Nana tentou se esconder, mas descobriu que era melhor ter permanecido parada. Esbarrou em uma pessoa alta, um homem de curtos cabelos verdes. Zoro.

—Que estranho... —disse ele em tom irônico, tirando uma de suas espadas da bainha. —Não me lembro de ter uma garotinha e um macaco na tripulação.

—AH MEU DEUS, agora a gente ta frito!!! —berrou Snoof tentando voar para fora do barco, mas Zoro o segurou com uma das mãos.

—Calma, podemos explicar —mentiu Nana. —Mas solte Snoof, ele não fez nada para vocês!

—Claro que fez —disse uma outra voz, quase tão estranha quanto a do capitão. Um homem de nariz longo e cabelo negro (que lembrava e muito uma grande quantidade de palha de aço) saltou do mastro, caindo de cara no chão. Levantou-se veloz e apontou para o macaco voador. —Ele roubou nossa comida, nosso ouro e nossas lembranças antigas!

—Claro que não, Usoop! —disse uma pequena rena bípede. —Quem fez isso foi a Nami!

—Nem pense em falar mal da Nami! —bradou um homem loiro de terno negro, saltando sobre a pequena rena e iniciando uma briga de socos e chutes.

—Será que vocês dois podiam ser mais maduros! —disse Nami. —Quem são vocês dois?

—Eu sou Nana, e este é Snoof —respondeu a garota. —E vocês são a tripulação do Going Merry, liderados pelo capitão Ruffy que está buscando o lendário One Piece, certo?

—Como sabe disso? —perguntou Zoro surpreso.

—Bruxa! —bradou Usoop. —Eu sabia que você era uma bruxa mal... —Não conseguiu terminar sua frase, pois foi arremessado longe por um soco de Nami.

—AAAAHHHHHH!!! —berrou a voz do capitão de dentro da pequena sala.

—Meu Deus, Ruffy, o que aconteceu?!?! —perguntou Nami desesperada.

Ruffy abriu a porta da pequena sala, revelando seu corpo magro e desproporcional, coberto por uma camiseta regata vermelha e uma bermuda jeans.

—Sanji, aconteceu uma desgraça, algo que pode acabar com nossa tripulação!!! —disse ele em desespero. —Isso é o fim do mundo!

—O que aconteceu? —perguntou o homem loiro.

—Acabou a comida...

Todos do navio caíram, inclusive Nana, que por um momento ficou desesperada.

Logo em seguida, houve um tremor repentino. Ruffy, mesmo parecendo impossível, ficou sério. Sanji e Zoro também. Nami subiu no mastro para tentar ver o que era e a pequena rena a seguiu. Usoop saltou para dentro da pequena sala rapidamente, tremendo de medo.

—O que foi isso? —perguntou Zoro.

—Um navio inimigo —disse Nami. —Estão nos atacando.

Uma grande bola de fogo cruzou o ar na direção do Going Merry, errando o alvo por pouco. Uma terceira bola de fogo foi arremessada, acertando a água ao lado do navio, que começou a virar.

—O navio vai virar! —berrou Nana.

—Temos que sair daqui! —disse Snoof. —Agarre minha bota azul!

A garota fez o que o macaco ordenou e ele tentou voar, mas mesmo fazendo o máximo de força que conseguia não moveu um centímetro a garota.

—Não acredito que você não pode voar! —disse Nana.

—A culpa é sua por ser gorda! —resmungou Snoof, sendo arremessado ao chão logo em seguida por um soco da garota.

—Vou ajudar vocês! —disse Ruffy. Então seu braço se esticou a níveis sobre-humanos e enrolou a garota e o macaco voador. Depois ele girou no lugar e pronunciou: —GOMU GOMU NO... TORNADO!!!

Nana e Snoof escaparam dos braços de Ruffy e foram arremessados a uma enorme distância. Ainda tiveram tempo de ouvir o capitão gritar “Vai ser mais seguro na água do que com a gente!”, antes de afundarem no mar.

—Eu não sei nadar! —bradou Nana, mas estava seca. Levantou-se e percebeu que sua roupa estava muito diferente de antes: trajava agora um kimono negro, bastante largo em seu corpo. Seu cabelo estava preso e ela tinha uma pequena espada nas mãos.

—Está feliz agora? —perguntou Snoof. —Você é uma shinigami!

—Eu sou o que? —perguntou Nana, então ouviu uma explosão. Viu uma nuvem de fumaça se levantar ao seu lado quando uma grande criatura surgiu. Parecia um rinoceronte preto, mas usava uma espécie de máscara branca.

Só então percebeu onde estava. Era uma anime que ela começou a acompanhar recentemente, indicado por todos os garotos da sua escola. Chamava-se Bleach.

“Bom”, pensou ela, “se eu estou no mundo de Bleach devo encontrar...”

—ICHIGO!!! —berrou uma irritante voz quando um ursinho amarelo surgiu correndo de mais seis daquelas criaturas.

—Eu... Eu não sou Ichigo! —disse Nana. —Eu sou...

—Se você não é Ichigo então saia da minha frente!!! —disse o urso, que passou correndo pela garota.

—O que vamos fazer? —perguntou ela.

—Que tal corrermos atrás daquele urso? —disse Snoof, tentando encontrar uma saída para fugir das criaturas também. —Ele pode saber alguma coisa importante não é?

—Seu covarde! Eu vou ficar e lutar!

—Vai?

Os sete hollows pararam em frente a Nana e a fitaram. Pareciam famintos, pois escorria saliva de seus enormes dentes.

—Eu não vou fugir! —disse Nana, pressionando as mãos contra o cabo da pequena espada. —Desperte, Snoof!

—Mas eu nem estou dormindo! —disse o macaco sem entender.

—Não estou falando de você seu idiota, estou tentando descobrir o nome da minha zanpakutou.

—Sua quem?

—Lata, PiraPiru! Dizime, Nightroad! Corte tudo, Articuno! Queime, Agumon! Chute com força, Tsubasa!

—Dá pra você ser mais criativa? —perguntou Snoof.

—Fique quieto! —As criaturas se aproximavam cada vez mais de Nana, e ela não sabia mais o que fazer. Não sabia mais que nome dar a sua zanpakutou. —Alegre-nos, Mickey?

—Getsuga Tenshou!!! —berrou alguém do outro lado da rua.

Uma luz azul poderosa cortou o chão e, ao mesmo tempo, os 7 hollows que a pouco encaravam Nana. Ela se virou rapidamente e viu um garoto de cabelo laranja, coisa estranha para ela, se não fosse acostumada com as cores estranhas dos cabelos de animes.

—Você está bem garota? —perguntou Ichigo.

—Sim, sim, estou! —respondeu Nana, encantada por ver Ichigo de frente.

—Que bom. Olha, nunca te vi por esses lados, e espero nunca mais vê-la. Aqui está ficando cada vez mais perigoso, e você parece não estar preparada para lutar.

—Você poderia me treinar um pouco? —pediu ela, pois era sua única chance de ficar um pouco mais perto de Ichigo.

—Treinar? Não sei se seria uma boa escolha eu te treinar... Mas eu sei quem pode!

Mais tarde, naquele dia mesmo, Nana estava iniciando seu treinamento com Renji, um homem de cabelos longos e vermelhos que parecia um hippie. Não era a mesma coisa que treinar com Ichigo, é claro, mas...

—Bom, então vamos começar! —disse Renji. —Lata, Zabimaru!

A espada dele se tornou uma lâmina dividida em vários pedaços esticáveis. Nana não estava surpresa.

—Sua vez, chame sua espada! —disse ele.

—Eu... Bem... Minha espada ainda não tem nome... —balbuciou a garota.

—O QUE? E você ainda quer ser shinigami? Ah faça-me o favor...

—Na verdade, eu também não sou shinigami... Eu vim parar aqui por engano!

—Então você não é um shinigami? E ainda quer usar essa roupa e essa espada? Já entendi. Você é um Arrankar!

—Não eu não...

—Muito bem, então eu irei te destruir! BANKAI!

No lugar da espada Renji agora tinha uma espécie de serpente de madeira. Ele mexeu o braço freneticamente e ela atacou Nana, que não conseguiu se defender. Fechou os olhos para aceitar seu destino...

Mas não sentiu dor. Então abriu seus olhos novamente e viu que agora estava em um vasto campo gramado. Olhou para os lados e viu algumas pessoas olhando para ela. Só então percebeu que trajava uma roupa diferente. Era uma camisa azulada com um estranho símbolo nas costas, e uma saia cinzenta e curta.

—O último Uchiha não era aquele garoto, Sasuke? —perguntou um garoto gordo de cabelo castanho.

—Vai saber... —disse seu companheiro, um garoto de cabelo cumprido e negro.

—Agora sim está começando a ficar bom —disse Snoof. —Imagina só quando encontrarmos aquela Quinta Hokage... Ouvi dizer que ela tem um belo par de...

—De? —perguntou uma mulher alta e loira, de curvas avantajadas, com uma cara de poucos amigos.

—DE OLHOS!!! —berrou Snoof assustado com a presença da mulher. —Um belo par de olhos! —sorriu ele tentando disfarçar.

—Claro que tenho —disse a mulher. —Meu nome é...

—Tsunade! —exclamou Nana, excitada pela presença de uma autoridade tão bela e forte. —A mulher que pode lançar alguém a 1 quilômetro de distância. Sou uma enorme fã de suas habilidades!

—Então já ouviu sobre mim? —perguntou Tsunade. —Isso torna as coisas mais fáceis. Como chegaram aqui e o que querem?

—Boa pergunta! —disse Nana se levantando. —Pena que não sei responder!

—Por que está usando uma camisa dos Uchiha? —perguntou um garoto estranho, de cabelos negros, que usava uma camiseta igual à de Nana, com o mesmo símbolo.

—SASUKE!!! —berrou ela, saltando sobre o pescoço do garoto, desesperada. Ele não entendeu nada quando Nana o agarrou.

—Sasuke, você conhece essa garota? —perguntou um ninja de cabelos brancos que usava uma máscara, o único de lá que realmente parecia um ninja.

—Não que me lembre —respondeu o garoto. —Você me conhece de algum lugar garota?

—Sim, sim, sim!!! Eu te amo Sasuke!!! Sempre te acompanho pelas páginas do mangá! Sempre torço por você! Sempre...

—Chega da sessão “De volta para a minha terra” —disse uma garota de cabelos rosados, puxando Nana para longe de Sasuke.

—Páginas do mangá? —Sasuke não entendeu.

—Pode nos explicar como veio até aqui? —perguntou a garota de cabelo rosado.

—Bom, eu estava no ponto de ônibus quando...

Nana realmente pensou em contar a história real para os ninjas, mas eles a olharam com desconfiança, então parou. Tentou imaginar alguma desculpa melhor, mas não conseguiu. Então contou toda a história, com todos os detalhes.

—Essa é a história —disse enfim. —Tudo o que me aconteceu, desde o início.

Tsunade olhou bem no fundo dos olhos de Nana, como se entendesse a história. Mas pelo jeito, não entendera nada. Gargalhou.

—Então você realmente acha que pode enganar os ninjas de Konoha com essa história? —zombou Tsunade. —Nós somos experientes em táticas ninjas! Somos experientes em estratégias! Acha que uma história assim pode nos enganar?

—Não! —disse Nana, assustada pelos ninjas não acreditarem em sua história. —Não estou mentindo! Foi isso o que aconteceu co...

—Chega! —disse Tsunade. —Ainda não desistiu de nos enganar?

—Tsunade! —disse uma voz ainda não apresentada. Um garoto loiro de roupa laranja se aproximou de Nana. Sua expressão era pacífica, calma, mas era possível perceber que ele guardava uma enorme força. —Acho que ela não está mentindo.Não parece estar mentindo.

—Eu agradeço —disse Nana.

—E o que você sabe sobre isso Naruto? —perguntou a Hokage.

—Nada. Apenas disse o que acho.

Tsunade olhou fundo nos olhos de Naruto.

—Pois bem. Você ficará encarregado por essa menina agora. Qualquer coisa que acontecer a nossa vila após isso, é culpa sua! Entendeu?

—Claro que sim, mas não precisa se preocupar —disse o garoto. —Eu sou o homem que vai se tornar hokage um dia! Nada vai acontecer!

—Assim espero! —disse Tsunade, e partiu junto à maioria dos ninjas.

Apenas 3 ninjas ficaram no campo gramado. Naruto, Sakura e Sasuke. Todos se aproximaram de Nana calados.

—Olha, você não precisa contar nada pra gente —começou Sasuke. —Isso só nos deixa sem poder confiar em você. Tem certeza que quer assim?

—Mas eu já contei o que aconteceu!—exclamou Nana.

—Que assim seja —disse Sasuke, e se afastou. Sakura observou Nana por alguns instantes e saiu correndo atrás de Sasuke logo em seguida.

Apenas Naruto ficou.

—Você deve estar com fome —disse ele. —Vou te levar para comer a melhor comida da cidade!

Naruto sorriu e Nana retribuiu o sorriso. Então foram ambos para o ramem do Ichiraku. Depois de uma refeição saborosa, Nana refletia sobre estar no mundo do seu mangá favorito. Era tudo muito bom, mas ainda sim era ruim. Se continuasse lá,perderia a hora para o seu evento. Então começou a pensar em todos os mangás que gostava e que iria ver no dia seguinte. Isso a desesperou.

—Eu quero ir embora, Snoof —disse ela. —Não quero me atrasar para o evento amanhã!

—E como pretende sair daqui? —perguntou o macaco voador.

—Não sei! Esse é o problema!

Nana estava começando a se desesperar. Que horas seriam no seu mundo? Estaria atrasada para o evento? Sua mãe estaria preocupada? Todos os animes e mangás que ela gostava começaram a passar por sua cabeça naquele instante. Era uma enorme confusão. Só parou quando ouviu uma explosão vinda da entrada da cidade.

—O que foi isso? —perguntou ela.

—Não sei —disse Snoof. —Vamos ver!

Enquanto corria, Nana viu Naruto voltar desesperado em direção ao prédio da Hokage. Quando passou por ela, antes que ela pudesse perguntar, disse friamente:

—Confiamos em você, e olha o que aconteceu!

Então virou o rosto e continuou a correr.

Desesperada, Nana correu na direção da saída da vila da folha. Algo acontecera e a culpa caíra sobre ela. Teve medo quando notou uma incomum agitação no grande portão.

—Meu Deus... —murmurou para si mesma. —O que é isso?

Era como uma guerra. Diversas explosões aconteciam em todo o local. Todos os elementos pareciam se chocar no ar e no chão enquanto as pessoas batalhavam. Tudo o que ela tinha imaginado havia se tornado realidade. Guerreiros Z voavam pelo céu disparando esferas de energia para todas as direções, ou mesmo lutando entre si com seqüências velozes de socos e chutes. Cavaleiros do Zodíaco corriam em todas as direções, disparando suas técnicas fortes e rápidas, com suas brilhantes armaduras. Aviões passavam pelo céu como na segunda guerra mundial, porém com a tecnologia dos animes, que era muito mais grotesca do que a real, com o uso de mísseis e disparos de lasers. Outros veículos estranhos percorriam o chão e o mar, com seu armamento pesado sendo usado como nunca.

Shinigamis flutuavam pelo ar ou corriam, brandindo suas espadas contra Hollows ou Arrankars que lutavam furiosamente na planície do gramado. O melhor time de futebol japonês duelava epicamente contra o melhor time de basquete, todos dentro de uma enorme quadra de tênis onde os príncipes jogavam com suas técnicas perfeitas. Ao fundo, a banda Beck cantava sua trilha sonora, mas logo isso parou pois o palco foi quebrado por rajadas flamejantes de alguma coisa que não se pôde ver.

Agentes secretos usavam seus ternos colantes e suas pistolas silenciosas para fazer estragos pequenos, mas ainda sim estragos. Pokémons discutiam suas diferenças com os Digimons, enquanto Tai caia no soco com Ash pelo título de domador protagonista. Mais ao lado, Genki e seus monstros de rancho observavam abismados a batalha épica que acontecia entre os pets.

Na água os navios piratas se enfrentavam com raiva, atacando com bolas de canhão e poderes de frutas do diabo, um mais estranho que o outro. Monstros marinhos levantavam-se, cada vez maiores e mais poderosos, para atacar os barcos, mas nada parecia afetar aqueles piratas. Era uma batalha sem fim: pra cada criatura que caía, duas se levantavam, maiores e mais cruéis que as anteriores.

Nana observava tudo sem saber o que fazer. Seria ela a culpada de tudo aquilo? Seria ela quem estava controlando aqueles mundos e causando desarmonia? Mas como? Tudo o que ela queria era voltar para o seu mundo, ter uma noite tranqüila de sono e vencer o concurso de cosplay do dia seguinte, nada mais(não que seja pouca coisa, pensava ela, mas...).

—Não acho que você seja a culpada por isso tudo —disse Snoof, observando a guerra cruel que acontecia em sua frente com os olhos bem abertos. —Mas de certa forma, é você quem deve acabar com isso. Afinal, foi você quem começou...

—Você não acabou de dizer que eu não era a culpada? —perguntou Nana, assistindo alguns magos de Harry Potter duelarem com Lina Inverse, de Slayers, e tentando entender o que Harry Potter tinha a ver com animes e mangás.

—Bom... De certa forma...

—Ah, deixa pra lá! Vamos tentar resolver isso!

Quando Nana pensou em avançar para o meio da guerra, alguém segurou seu ombro. Ela se virou vagarosamente e viu Naruto. Sua expressão era fria, difícil de se compreender.

—Acha que vai fugir tão fácil? —perguntou ele. —Foi você quem causou tudo isso não foi?

—Não seu —respondeu Nana fechando os olhos e se concentrando. —Mas serei eu quem irá parar!

Quando ela abriu os olhos, Naruto se assustou. Em cada olho de Nana haviam mais 3 esferas negras, que lembravam o número 6 em formato. Seus olhos azuis agora eram vermelhos como sangue. Sasuke, que estava um pouco afastado do local, correu até perto dela e olhou fundo nos seus olhos.

—Sharingam! —exclamou assustado. —Sem dúvida alguma!

—Está do nosso lado? —perguntou Naruto, ainda espantado com o novo poder de Nana.

—Até onde eu sei, estou neutra —respondeu a garota, virando as costas para os dois garotos e avançando em direção à guerra.

Percorreu grande parte do campo apenas correndo, se esquivando de esferas de energia e manifestações de cosmo. Com aqueles olhos era tudo mais fácil, correr se tornou algo normal para ela, como se fosse uma atleta profissional, como se fosse uma kunoichi. Deixava os braços para trás sem nem perceber: parecia que assim era muito mais fácil ganhar velocidade.

Snoof a seguia pelo céu, se esquivando das naves espaciais e dos dragões voadores que se atacavam. Para ele era tudo mais difícil, pois não tinha um sharingam, nem braços longos o suficiente para deixar para usar como impulso. Mesmo assim a seguiu como pôde.

—Para onde pretende ir? —perguntou ele com um berro para que Nana escutasse do meio da multidão.

—Vamos ao centro da batalha —disse ela. —Lá teremos uma visão mais ampla de tudo o que está acontecendo.

—Sim, e seremos alvos muito melhores!

—Isso não vem ao caso —Nana se esquivou de uma rajada de gelo vinda de algum lugar que ela não conseguiu definir e continuou a correr. —Temos que chegar até lá.

Avançou mais alguns metros quando alguns Arrankars entraram em seu caminho. Ficou surpresa quando sua zanpakutou surgiu milagrosamente em sua mão, como se a chamasse.

Chamar... Sim, ela sabia como chamar agora.

—Liberte seu poder, Exanozis! —pronunciou Nana. Sua espada brilhou e se desfez em poeira, um tipo de pó azul que se dissipou no ar. Depois de um tempo, esse pó se reuniu e se tornou uma ave. Em seguida outra. E outra.

Logo havia dez pássaros azuis ao redor de Nana, todos atacando os Arrankars com fúria. Ela ignorou as batalhas e prosseguiu com sua corrida desesperada, tentando alcançar seu destino mais rápido.

—Como você sabia o nome da espada? —perguntou Snoof.

—Eu não sabia! —sorriu Nana, saltando sobre um grande trasgo verde e o derrubando.

Mais a frente, um grupo de piratas a abordou. Os pássaros de sua espada haviam ficado para trás durante a batalha, na havia mais arma alguma. Ao menos era isso que ela pensava quando seus braços pegaram fogo e começaram a se esticar.

—Gomu Mera Mi... Fire Rocket!!! —exclamou ela, sem saber o que aconteceria.

Mas o resultado foi melhor do que o esperado. Sem perceber, seu corpo avançou como um foguete pelo campo de batalha, atingindo os piratas e muitas outras criaturas com uma rajada flamejante poderosa. Avançou muitos metros com esse movimento, se aproximando ainda mais do centro da batalha.

—Estamos perto —gritou para Snoof, mas ele não ouviu, pois estava se esquivando de algumas naves estranhas no céu.

Nana avançou o restante do caminho com sua velocidade Uchiha e enfim, alcançou seu destino. Agora vinha o segundo problema: o que fazer?

Não teve muito tempo para pensar. Estava cercada por cavaleiros, guerreiros, magos e muitas outras criaturas. Não tinha como escapar. Mas então algo estranho aconteceu.

Um poder superior começou a tomar conta do seu corpo. Era algo forte, algo brilhante, algo... Dourado? Sim, dourado. Uma armadura.

Rapidamente, uma armadura dourada começou a cobrir o corpo de Nana. Brilhava mais do que qualquer jóia que sua mãe tinha em casa(mesmo que essas eram bijuterias), mais do que qualquer coisa que ela já tinha visto na vida. A armadura completa tinha um par de asas nas costas, duas botas “estilosas” e um elmo que lembrava a cabeça de um dragão.

Nana sentiu o poder tomar conta de seu corpo. Snoof se aproximou temeroso de sua dona, e algo ainda mais estranho aconteceu. O corpo do boneco-macaco-voador-bebê começou a se ampliar e se tornou um grande robô, que atacou os alvos mais próximos. Enquanto isso Nana acumulava seu poder. Um poder maior do que qualquer outro que existiu ou existiria no mundo. O poder do coração de uma jovem, mais puro do que qualquer flor ou água.

Snoof segurou o máximo que conseguiu as naves e criaturas voadoras longe de Nana.

Foi o suficiente.

—Snoof, pode se tranqüiliza agora! —bradou Nana. —Vou cuidar disso tudo.

—Como quiser minha senhora! —disse Snoof, voltando à forma de macaco-voador.

Nana energizou todo seu poder nas mãos. Seria o golpe final, forte o suficiente pra destruir qualquer coisa, qualquer um daqueles malucos que lutavam sem sequer se conhecer, forte o suficiente pra destruir todos eles de uma só vez. Mas esse não era o plano de Nana.

—Acho que já está bom... —murmurou para si mesma. —Está na hora de acabar com tudo isso.

Nas mãos de Nana, um brilho forte surgiu. Mas ela não o dirigiu aos guerreiros. Ao invés disso, lançou-o ao céu. O brilho subiu alto no céu e explodiu em lindos fogos de artifício.

Ninguém mais lutava no chão. A guerra cessou. Todos observavam o espetáculo no céu.

—Por que estávamos lutando? —perguntou um dos cavaleiros, que Nana reconheceu como Shun.

—Não sei —respondeu um garoto de cabelos rosados e longos, Kurama.

—Acho que todos estávamos loucos —disse Terriermom, que havia parado de atacar o grande Venassauro na sua frente.

—Concordo —disse Matsumoto, que quase cortara a cabeça de Tsunade com sua espada.

—Mas agora todos voltamos ao normal —disse Gon, balançando sua vara de pesca no ar.

—Graças àquela garota —disse Ash, acariciando seu Pikachu.

—Sim... —disse Naruto. —Graças àquela garota... Konoha está a salvo! Ela é a nossa salvadora! Devemos tudo a ela! Um grito a Nana!

Houve um grito em coro e todos comemoraram. Em seguida, todos, sem nenhuma exceção, se curvaram diante de Nana, que não conseguiu segurar. Chorou.

Tentou puxar a camiseta para limpar as lágrimas, mas lembrou-se da armadura. Porém, quando percebeu, estava com sua roupa comum. Agora estava sentada no ponto de ônibus, no mesmo lugar onde tudo isso tinha começado.

Snoof estava em seu braço. Apenas um boneco sem vida.

Tudo voltara ao normal.

Nana pegou sua condução e voltou para casa. Estava cansada de tantas aventuras, e nem mesmo sabia se fora um sonho ou fora real. Deitou-se e dormiu rapidamente.

A noite passou incrivelmente rápido e, na manhã seguinte, Nana se levantou. Vestiu seu cosplay: uma blusa laranja coberta por uma espécie de manto verde e uma saia do mesmo tom de verde. Prendeu o cabelo com duas “xuxinhas” laranjas como sua blusa e se preparou para sair. Quase esqueceu Snoof, mas voltou para o pegar.

Naquele dia, tudo correu bem para Nana. Não sabia se era pela graça dos personagens agradecidos ou se foi realmente sorte, mas ela ganhou o concurso de cosplay em primeiro lugar. Muito mais do que isso foi chamada para desenhar mangás devido ao talento demonstrado ao desenhar seu cosplay. Já tinha um emprego garantido pelo resto da vida.

Nada poderia deixa-la mais feliz.

Anos se passaram e Nana virou uma famosa mangaká. Suas histórias eram sempre cativantes e continham mensagens melhores do que qualquer pessoa poderia imaginar. Cresceu e enriqueceu, mas nunca perdeu os velhos hábitos de criança. Um dia, apenas um dia, teve a impressão de ouvir alguém a chamando dentro de sua casa, mas não tinha ninguém. Apenas seu bom e velho companheiro Snoof, seu pokémon, seu “pet”.

“Mas que tolice”, pensou ela. “Bonecos não falam!” Então deu um sorriso malicioso para Snoof e deixou o aposento.

O macaco voador retribuiu o sorriso.